Mês: julho 2010

Ideocriminoso

Cada época lança sua tendência popular, seja na música, na moda, na política, ou até mesmo no estilo de um povo. Normalmente, segue-se o padrão popular, desconsiderando-se sua coerência; e validando seu valor pragmático – se gostam, se compram, se digerem, muito bem!

O meio evangélico, como de costume, não ficaria de fora até porque, em sua maioria, é constituído de pessoas que sabem fazer, mas não pensar. Vivemos em plena mutabilidade da linguagem, onde a cada mês surgem novos maneirismos. Ainda que o conteúdo por vezes seja incompreensível (ou mesmo equivocado), as expressões são rapidamente assimiladas, alastrando-se numa velocidade incrível por igrejas em todo o país.

Há algum tempo era um tal de “amarra” daqui e “ata” dali, até que alguém percebeu que a qualidade de tais cordas deixava a desejar, pois o tal tinhoso sempre se soltava a aprontava de novo, precisando ser amarrado novamente.

Em outra eloqüente demonstração de falta de habilidade com as palavras, os tribalistas evangélicos de hoje abusam de verbos no infinitivo. Trocam “ação divina” por “agir de Deus”, por exemplo; “mover do Espírito” é outra expressão recorrente.

O louvor tem sido customizado. Cria-se um estilo, ou um chavão, e pronto! Todos repetem aquilo, buscando copiar até o “jeito da boca”. A impressão é a de que se não fizer daquele mesmo jeito, o louvor não terá sentido, ou seu efeito será diluído. Resultado: falta criatividade e sobra imitação.

Em muitos lugares o período de louvor confirma a insensibilidade dos que não sabem aonde ir, como, quando e sua razão. A cada duas frases o dirigente pede que cada um olhe para o irmão ao lado e diga alguma coisa, sem perceber que essa repetição suprime a espontaneidade e mais constrange do que abençoa.

Felizmente, nem todos são enlatados pelo invólucro modernoso. Alguns têm a devida coragem de dizer a verdade; como, por exemplo, afirmar que grande parte da música de hoje é música horrível feita por agitadores culturais disfarçados de músicos (o pior é que a maioria adora. O que revela o nível cultural e intelectual de nossos dias) – crítica de Dori Caymmi aos músicos de hoje, incluindo os evangélicos.

No livro “1984”, George Orwell escreveu que a sociedade do futuro iria usar um idioma que ele chamou de “novilíngua”. De acordo com o jornalista e escritor inglês o termo “crimidéia” significaria “o crime de pensar”. Quem se atrevesse a perpetrar tal ato seria tachado de “ideocriminoso”.

Remetendo ao idioma orwelliano, fico a desejar, e a clamar ao Senhor que seja misericordioso e levante muitos ideocriminosos no meio de Seu rebanho – pessoas que cometam o crime de pensar, de refletir, de fazer do discernimento seu amigo inseparável. Pessoas que não somente pensem, mas que pratiquem em vida; como resultado da coerência de suas reflexões. Quem sabe Deus não esteja levantando em nossa comunidade pessoas assim? Será você?

“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará. Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios e sim como sábios, remindo o tempo porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor” (Efésios 5.14-17).

Desperte do modismo e Cristo te iluminará!

Viver a Palavra

Deus vive em sua eternidade

Eu morro em minha limitação

Deus fala em sua majestade

Eu emudeço em minha perdição

O toque que produz vida

O sussurrar da inteligência

A inspiração divina

A iluminar a negligência

O Criador que em tudo pensou

Às criaturas seu pensamento passou

Se, quero de Deus o segredo

De como ser bem sucedido

Preciso considerar sua Palavra

Preciso vive-la, vive-la, vive-la!

Wagner Amaral

Voltamos a considerar o Salmo 119 diariamente em meu twitter. Viver o plano do Senhor é a única forma de sermos puros, adorando-o com o nosso proceder.

Tempo de adoecer

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu […]  Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo” (Eclesiastes 3.1, 11).

É admirável o conhecimento que se nutri do Senhor, o que torna ainda mais espantoso a inércia deste conhecimento no viver. Decididamente saber não é viver! Não há um santo, crente ou profano, que não concorde quanto à necessidade de diminuir o ritmo de suas atividades, da correria de seus dias. Agitação estafante, estranguladora do prazer, e principal acusada da inversão das prioridades pelas urgências. “Estresse, estresse” é o termo modal na boca dos entendidos médicos e, na do ignorante povo. Toda e qualquer imagem interiorana ou praiana desperta suspiros e sonhos distantes, empurrados para a sempre ausente e atrasada férias.

Deus já revelara tão objetivamente quanto ao tempo, que parece gerar descrença em seus ouvintes (a descrença será na mensagem ou no mensageiro? Talvez nos dois). Há tempo para tudo, e isto inclui tempo para descansar. Tempo para curtir a família, os irmãos, a natureza. Tempo para refletir. Tempo para um check-up na saúde. Tempo para desligar o celular, para se desplugar. Tempo para dizer “não”, mesmo quando tudo indica que você é o único possível e disponível para a tarefa.

Vez por outra o agir Soberano “prega uma peça” naqueles que não têm tempo de parar: enfermidade, cancelamento ou atraso no vôo (problema atual em nosso país) mostram que o mundo não trava quando você para; que as pessoas vivem exatamente da mesma forma, quando não melhor, em meio à sua ineficácia; que aquela tarefa que somente você faria é realizada por outro, ou substituída por outra superior. E assim, as desculpas que servem como combustível para agitação e falta de tempo são humilhantemente derrubadas.

A real probabilidade é a de que o orgulho seja o grande vilão, pois o receio não é o desandar da rotina, mas sim a possibilidade de ser ignorado, substituído, encostado. A batalha do ego concentra na conquista do reconhecimento, nem que para isto se tenha uma vida de má qualidade, sem prazer.

Vale a pena? Prefiro o descanso no Senhor ao orgulho do ativista, assim como o bife no suave e pacífico lar ao caviar na estupenda e irada família. Afinal, a vida é mais atraente e prazerosa quando não seguimos na utopia de um senhorio próprio, mas reconhecemos o senhorio de Deus.

Nossa alegria

Dei uma pausa em minhas férias para comentar a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo.

Todos tristes; cheios de críticas e opiniões. Agora, uma facilidade enorme de apontar vilões. E uma insistência preconceituosa em “secar” a Argentina, rsrs.

Mas, apesar de toda esta realidade, tudo bem! Afinal, lembre-se de que este não deve ser o nosso mundo. Isto é, por mais incômodo que se proponha, nossa alegria continua sendo o Senhor e seu Reino. Nossa esperança está além desta realidade. Não é o futebol com suas vitórias e derrotas que deve determinar nosso humor; mas sim a adoração e o prazer de servir ao Deus eterno, imortal, invisível, mas real.

Nossa seleção pode falhar, mas ELE não falha!