O que dizer das atuais gerações? Sim, “atuais”; pois em meio à espantosa velocidade e ferocidade da mídia, e de suas ferramentas, o conhecimento se multiplica a números inimagináveis, encurtando a idade da formação e da troca de gerações; e tornando as transições cada vez mais imperceptíveis. Qual a semelhança entre crianças de cinco anos, de hoje para as de vinte anos atrás?
Uma criança de três anos hoje, não somente acessa como controla conteúdo na internet, e na mídia em geral. Notebook, netbook, tablete, celular; todos como portas para o conhecimento e a comunicação com seus e-mails, twitters, redes de relacionamento. Ficar em algum lugar, ilhado, sem celular, televisão e internet é uma decisão difícil para a maioria; e, provavelmente, impossível para alguns. É a síndrome da monofobia – medo de ficar incomunicável, causando a sensação de solidão. Daí outras síndromes como a nomofobia – medo de ficar sem celular.
O grupo americano Parenting, que publica as revistas Parenting e Babytalk, realizou uma pesquisa com mais de mil mães. Mais de 70% delas não consegue ficar mais de um dia sem usar a internet enquanto para 40% ficar sem navegar na web por apenas algumas horas já é um incômodo. A pesquisa também mostrou que 79% das mães consideram o celular uma necessidade maior do que um telefone fixo. É na internet que as mães entrevistadas encontram os amigos: 81% estão no Facebook e 57% têm blogs para contar suas experiências e se comunicar com outras mães.
Há avanços maravilhosos, inclusive para aproximar pessoas: Posso, em São Paulo, falar com meu filho, em Manaus, em qualquer período do dia; falar, ouvir e ver. Somos aproximados; diferentemente das cartas, ou raras ligações de telefone fixo do passado. Posso compartilhar a motivação de uma alegria com todos, mesmo os que estão distantes, em um mesmo instante, ao postar em minha rede de relacionamentos. Assim como posso compartilhar uma preocupação, ou problema, pedindo ajuda para sua solução. Posso criar uma rede de oração, colocando centenas ou milhares de pessoas, mesmo não as conhecendo, para orar por mim, por minha família, por outras pessoas, ou igrejas. Posso afinar um instrumento através de um site na internet. É incrível! É impossível esgotar as possibilidades; até, porque estas se multiplicam a cada minuto (ou segundo).
Mas, há retrocessos também. E alguns que mexem em pontos fundantes; aqueles que determinam não somente o sucesso no resultado de meu viver, mas também a qualidade do processo, da caminhada. Apesar de tão “aproximadas” as pessoas estão mais distantes; inclusive em casa. A família senta na sala, mas não se comunica, pois cada um, em posse de seu notebook, viaja pela internet. E, às vezes, a um metro de distância, não há palavras expressadas com o apoio do olhar, ou do fundamental toque físico; mas, mensagens escritas e trocadas pelos meios de comunicação na internet. Tão próximos, mas tão distantes.
O mundo mudou. Ficou pior e melhor; mais moderno e mais medíocre; mais desenvolvido e mais atrasado; mais alegre e mais triste. Como você se vê em meio a este dilema? Em qual dos aspectos você se encaixa?
O triste engraçado é que as gerações passadas lutaram tanto por liberdade; e quando esta chega, no formato que tem sido experimentado, todos se tornam escravos dela. Hoje, a liberdade cultivada escraviza. Não somente isso, ela também emburrece – conduz as pessoas à sensação de sucesso por alcançar lugares e pessoas tão distantes; mas, as cega quanto às que estão por perto; bem ao lado. Pessoas com o reflexo do monitor nos olhos, e os ouvidos dominados pelos fones; mas que quando os desligam, revelam a tristeza de uma vida sem a forte amarra de relacionamentos reais, sólidos, entre próximos; inclusive a ausência de relacionamento familiar.
Afinal, o que estão construindo? Isso durará? Promoverá maturidade? Permanecerá no tempo da doença, das dificuldades? Será mais saboroso do que correr no campo, olhar nos olhos e sorrir, abraçar, encostar e conversar, sentindo a respiração, o calor?
Eu prefiro ser livre, do jeito que Deus me ensina, e criar relacionamentos verdadeiros. E você?