Mês: agosto 2012

Monofobia

O que dizer das atuais gerações? Sim, “atuais”; pois em meio à espantosa velocidade e ferocidade da mídia, e de suas ferramentas, o conhecimento se multiplica a números inimagináveis, encurtando a idade da formação e da troca de gerações; e tornando as transições cada vez mais imperceptíveis. Qual a semelhança entre crianças de cinco anos, de hoje para as de vinte anos atrás?

Uma criança de três anos hoje, não somente acessa como controla conteúdo na internet, e na mídia em geral. Notebook, netbook, tablete, celular; todos como portas para o conhecimento e a comunicação com seus e-mails, twitters, redes de relacionamento. Ficar em algum lugar, ilhado, sem celular, televisão e internet é uma decisão difícil para a maioria; e, provavelmente, impossível para alguns. É a síndrome da monofobia – medo de ficar incomunicável, causando a sensação de solidão. Daí outras síndromes como a nomofobia – medo de ficar sem celular.

O grupo americano Parenting, que publica as revistas Parenting e Babytalk, realizou uma pesquisa com mais de mil mães. Mais de 70% delas não consegue ficar mais de um dia sem usar a internet enquanto para 40% ficar sem navegar na web por apenas algumas horas já é um incômodo. A pesquisa também mostrou que 79% das mães consideram o celular uma necessidade maior do que um telefone fixo. É na internet que as mães entrevistadas encontram os amigos: 81% estão no Facebook e 57% têm blogs para contar suas experiências e se comunicar com outras mães.

Há avanços maravilhosos, inclusive para aproximar pessoas: Posso, em São Paulo, falar com meu filho, em Manaus, em qualquer período do dia; falar, ouvir e ver. Somos aproximados; diferentemente das cartas, ou raras ligações de telefone fixo do passado. Posso compartilhar a motivação de uma alegria com todos, mesmo os que estão distantes, em um mesmo instante, ao postar em minha rede de relacionamentos. Assim como posso compartilhar uma preocupação, ou problema, pedindo ajuda para sua solução. Posso criar uma rede de oração, colocando centenas ou milhares de pessoas, mesmo não as conhecendo, para orar por mim, por minha família, por outras pessoas, ou igrejas. Posso afinar um instrumento através de um site na internet. É incrível! É impossível esgotar as possibilidades; até, porque estas se multiplicam a cada minuto (ou segundo).

Mas, há retrocessos também. E alguns que mexem em pontos fundantes; aqueles que determinam não somente o sucesso no resultado de meu viver, mas também a qualidade do processo, da caminhada. Apesar de tão “aproximadas” as pessoas estão mais distantes; inclusive em casa. A família senta na sala, mas não se comunica, pois cada um, em posse de seu notebook, viaja pela internet. E, às vezes, a um metro de distância, não há palavras expressadas com o apoio do olhar, ou do fundamental toque físico; mas, mensagens escritas e trocadas pelos meios de comunicação na internet. Tão próximos, mas tão distantes.

O mundo mudou. Ficou pior e melhor; mais moderno e mais medíocre; mais desenvolvido e mais atrasado; mais alegre e mais triste. Como você se vê em meio a este dilema? Em qual dos aspectos você se encaixa?

O triste engraçado é que as gerações passadas lutaram tanto por liberdade; e quando esta chega, no formato que tem sido experimentado, todos se tornam escravos dela. Hoje, a liberdade cultivada escraviza. Não somente isso, ela também emburrece – conduz as pessoas à sensação de sucesso por alcançar lugares e pessoas tão distantes; mas, as cega quanto às que estão por perto; bem ao lado. Pessoas com o reflexo do monitor nos olhos, e os ouvidos dominados pelos fones; mas que quando os desligam, revelam a tristeza de uma vida sem a forte amarra de relacionamentos reais, sólidos, entre próximos; inclusive a ausência de relacionamento familiar.

Afinal, o que estão construindo? Isso durará? Promoverá maturidade? Permanecerá no tempo da doença, das dificuldades? Será mais saboroso do que correr no campo, olhar nos olhos e sorrir, abraçar, encostar e conversar, sentindo a respiração, o calor?

Eu prefiro ser livre, do jeito que Deus me ensina, e criar relacionamentos verdadeiros. E você?

Do jeito de Deus

“Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3.13-14).

Unhas afiadas cravadas na carne; sangramento, objetivando a morte da ideia; ou da vontade; ou do projeto; ou, quem sabe, da pessoa.

Olhar inescrupuloso, mensageiro do desejo de matar, que revela uma alma inundada em rancor. Ouvido oco, vazio de boa intenção, decididamente não inclinado a ouvir a realidade; mas, sim, sedento pela impulsiva pecaminosidade, cujo combustível é a dissolução do que vale a pena. Boca ferina, penetrante na arte da crueldade; sempre esquecida das virtudes do próximo, ou, pelo menos, do dever de perdoar; porém, pronta para assassinar. O que é pior – mentiras ou verdades mal contadas? A mentira crua ou maquiada; ou o que deveria ser a verdade, distorcida pela interpretação mal intencionada, causam feridas, dignas daquele que é considerado o pai da mentira, a saber, o diabo (João 8.44).

Enorme lembrança e meditar naquilo que fomenta o ódio; e pequena, ou nenhuma, inclinação para Cristo. Como é triste quando isto é observado naquele(a) que deveria ser testemunha de santificação; isto é, de mudança da velha e carnal criatura para o novo e espiritual filho. O apóstolo Paulo afirmara: “quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Efésios 4.22-24). A corrupção é revelada por meio do engano; deste que é a marca da influência do pecado, conduzindo a pessoa a crer que está sempre com razão; mesmo agindo ou reagindo absurdamente contrário ao que Cristo espera dos seus. É a força da confusão na mente, que faz prevalecer o animal, o ignorante, o estúpido; com um discurso de verdade e de santidade. Por isso, o apóstolo realça a renovação no espírito do nosso entendimento.

Vidas sendo massacradas, ao invés de perdoadas. Famílias sendo dissolvidas, ao invés de estimuladas ao amor de uns aos outros. Igrejas sendo aterrorizadas pelo ódio da individualidade, ou do agrupamento indevido, ao invés de aperfeiçoadas no temor do Senhor. Como acreditar que em meio à tamanha nudez do pecado, o Santo se agrada? Diante deste terrível quadro, o envolvido necessita se lembrar de sua verdadeira guerra – “Se viverdes segundo a carne; caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis” (Romanos 8.13). Se, age pecaminosamente está distante da vontade do Senhor, não importando o quanto acha que está certo. É preciso matar, dia após dia, a influência do pecado sobre si. E isto é possível pelo poder e ação do Espírito de Deus.

Por que continuar?

Por que continuar a pecar, e a produzir aquilo que agrada ao inimigo, mas desagrada a Deus? Por que ser responsabilizado por destruir vidas, ou atrapalhar igrejas? Por que fazer prevalecer o eu, se sabe que o resultado será maldito ao invés de bendito no Senhor? Deixe o pecado.

Agora, por que continuar, aprendendo a ser discípulo de Cristo? Porque como afirma o apóstolo no texto citado abaixo do título, somos vocacionados por Deus para viver à semelhança de Cristo. Somos vocacionados a ignorar as agressões, os abusos, as feridas causadas; matando o nosso orgulho; a fim de aprender a humildade (submissão) em Cristo. Quando movidos por nosso orgulho, todos os contrários viram inimigos de morte; mas, quando movidos pela humildade em Cristo, todos os contrários viram instrumentos do Senhor para o nosso aperfeiçoamento, e alvos direto de nossa compaixão (Efésios 4.1-3).

Quero continuar a amar o Senhor e ao próximo, como discípulo de Cristo. Quero continuar a mortificar a influência do pecado sobre meus pensamentos, palavras, e ações. Quero continuar do jeito que Deus planejou para os Seus; e você? Abandone o pecado.

Saudades de pai

Distintamente todo pai sente (ou sentirá) saudade de certos períodos marcantes. Quero compartilhar quatro exemplos desse tipo de saudade; enfatizando o caminho para sua concretização.

Primeira saudade: Dos sonhos perfeitos para filhos “perfeitos”.

Antes de ser uma realidade no ventre da mãe, os filhos estão na mente do pai. Se, meninos – Bonitos, inteligentes, esportistas, amigos, e corretamente namoradores. Se, meninas – Carinhosas, amigas, inteligentes, e que prefira o pai ao namorado. O pai tem sonhos perfeitos para filhos perfeitos – sem sofrimento, vergonha, decepção, dor. Porém, mais do que as mães, o pai percebe que tais coisas são importantes para sua formação, e às vezes até os providencia. O pai, então, olha para seus pequeninos, com o seu sangue, e com a sua cara ou jeito, e quer o melhor para eles. A saudade existe porque quando alguns crescem escolhem caminhos que implodem por completo tais sonhos. Para que o sonho, com as devidas limitações, se torne realidade o papel do pai é o de direcionar o(a) filho(a) a uma vida com o Senhor (Provérbios 4.10-18).

Segunda saudade: Do filho dependente de sua provisão e proteção.

O pai sente saudade daquele pequenino com braços abertos solicitando seu colo, ou correndo para seus braços em momentos de medo ou de insegurança. Saudade dos pedidos para dormir na mesma cama quando o medo batia à porta. Saudade do abraço apertado em período de tempestade com seus trovões e raios. Saudade do passeio de mãos dadas, onde a alegria e o orgulho da criança eram evidentes. A saudade existe porque alguns quando crescem se afastam, quando não se envergonham de depender dele. No ímpeto de mostrar sua força e capacidade certos filhos não percebem que maltratam ou até mesmo humilham seu pai. Para esta dependência ter continuidade num patamar elevado o pai precisa, sem exagerar na dose, transformando em superproteção, direcionar o(a) filho(a) à dependência da provisão e da proteção do Senhor. Pois o que aprende a depender do Senhor mantém a visão do pai, entendendo seu valor e sua importância para sua vida (Provérbios 4.1-6).

Terceira saudade: Do filho carinhoso, brincalhão, apegado.

Todo pai sente saudades do período em que recebia todo dia, e em todo momento, o carinho de seu filho. Saudade dos pulos em cima dele. Saudade do período em que era um prazer para seu filho beijá-lo, abraçá-lo. Às vezes chegava a incomodar tanto apego, mas todo pai tem saudade de seu filho em seu colo, de seu sorriso e de suas insistentes perguntas, querendo saber de tudo, e achando que seu pai tinha todas as respostas. A saudade existe porque alguns quando crescem tornam-se fechados, frios, sem o calor do amor fraterno. As razões são variadas: escolhas, amigos, vícios, imaturidade, ou mesmo falha em sua criação. Para que este carinho e apego durem, é necessário que o pai se doe ao filho(a), demonstrando prazer com sua proximidade; e antes de tudo, ser carinhoso, apegado a ele(a). Mostrando que a fase adulta não impede o homem ou a mulher de ser carinhoso (Provérbios 4.3, 23).

Quarta saudade: De ser super-herói.

Que tempo maravilhoso para todo pai quando é o super-herói de seus filhos. Tempo em que sua palavra é a verdade, é a resposta certa. Tempo em que tudo o que diz é considerado pelos filhos, por mais incrível que seja. Tempo em que ele é o mais forte, o mais bonito, o mais inteligente, o mais corajoso, o mais confiável, o mais tudo. O pai sente saudade dos desenhos com o corpo atlético dos heróis de quadrinho, mas com o seu rosto colado nele. A saudade existe porque para alguns toda esta confiança se transforma em ingratidão. Para esta visão continuar o pai precisa amar o(a) filho(a), revelando sua realidade – o que é e quem é. É preciso diálogo, tendo a verdade e o amor como sua base (Provérbios 4.1-3, 10, 20).

Estes sentimentos perambulam pelo coração dos pais. Seja pela saudade de momentos alegres, ou pela vontade de recomeçar. Os pais se lembram de momentos e períodos agradáveis que às vezes não perduraram; seja por seus próprios erros ou pela mudança no coração dos filhos. Mas o sentimento está lá, no coração do pai.

Minha oração é que o Senhor conceda a oportunidade para alguns manter a vida agradável que o Senhor tem lhe concedido, tendo estes sentimentos com alegria e gratidão ao Senhor. Já para outros, minha oração é que a misericórdia do Senhor lhes dê a oportunidade de aprumar sua vida para que tenham agradáveis lembranças. E para outros, minha oração é que o Senhor os conforte. Já para os filhos, minha oração é que o Senhor lhes dê consciência e amor por seu pai. Que a consideração seja uma forma de adorar a Deus.

Ame ao Senhor, honrando a seu pai (ou à sua memória).

Adoração musical

Criar ambiente e fixar conteúdo. Independentemente das diversificadas opiniões, estes objetivos têm prevalecido na história da música, especialmente a partir do ano 1500; deixando para trás a “música gótica”, em que compor e interpretar era tarefa de todo músico, através de improvisações. Desde que a tarefa de compor e de interpretar se tornou distinta, os objetivos de criar ambiente e de fixar conteúdo passaram a conviver ora em acirrada disputa ora em harmoniosa e bela parceria. Evidentemente tal instabilidade se deu mais pela interpretação e definição de cada músico do que pelas possibilidades da própria arte musical.

Quando transportamos estes objetivos para a música na igreja, pensando, exclusivamente, em adoração; devemos considerar que tipo de ambiente é desejável. Uma resposta rápida e concisa seria: Ambiente de adoração. Este seria, provavelmente, melhor compreendido como: (1) Ambiente de louvor e de gratidão que nos leve a pensar em Deus. (2) Ambiente de alegria que nos ligue a Ele. (3) Ambiente de reflexão que nos ligue a Sua Palavra. (4) Ambiente de dedicação que nos leve ou ao arrependimento, ou ao desejo de servir. (5) Ambiente de amor que produza comunhão entre os que são do Senhor.

Diante deste quadro a sucessiva pergunta seria: Que tipo de música cria estes ambientes? Novamente, uma resposta simplória (normalmente dada) seria: Música que traduza adoração. Porém, a pergunta persiste: Que tipo de música cria os ambientes desejados para a adoração?

Quanto à letra? Uma breve resposta seria a de que seu conteúdo deve concordar com a Revelação de Deus (Salmo 19.7ss). Uma letra que apresente, musicalmente, a perfeição que restaura a alma; que dá sabedoria; que alegra o coração; que conduza ao discernimento e a irrepreensibilidade. Que seja agradável ao Senhor: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!” (14).

Quanto à melodia? Que seja agradável, coerente, e significativa (Salmo 137.1-4). [Melodia é uma sucessão dos sons musicais combinados. É a voz principal, que dá sentido a uma composição musical. Encontra apoio na harmonia, que é a execução de sons simultâneos dos demais instrumentos ou vozes quando se trata de música coral] Os israelitas questionavam a possibilidade de melodiar as canções de adoração em ambiente conflitante: “Como haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha?” (4). A melodia deve convergir o ambiente de adoração a seu conteúdo, traduzindo uma coerência significativa ao adorador e ao Adorado.

Quanto à harmonia? O óbvio! Que seja harmônica, isto é, perceptível, ordeira, e bela (Salmo 19.1-6). [Harmonia é o campo que estuda as relações de encadeamento dos sons simultâneos (acordes). A harmonia é um conceito clássico que se relaciona às idéias de beleza, proporção e ordem] A música na adoração deve traduzir e transmitir os atributos do Senhor, revelando Sua beleza, Seu controle e sensibilidade; à semelhança da descrição de Davi no Salmo 19, quando mostra que a criação proclama a glória de Deus, através destas características: “por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo” (4).

Quanto ao ritmo? Que estimule os adoradores a uma reação que propicie o ambiente esperado (Salmo 150). [Ritmo designa aquilo que flui, que se move, movimento regulado. O ritmo está inserido em tudo na nossa vida. Ritmo é o tempo que demora a repetir-se qualquer fenômeno repetitivo, mas a palavra é normalmente usada para falar do ritmo quando associado à música, à dança, ou a parte da poesia, onde designa a variação (explícita ou implícita) da duração de sons com o tempo] Observamos tipos de ambiente distintos na adoração, como ambiente de alegria ou de contrição. Assim como na comunicação (inclusive na arte da homilia) usamos ritmos distintos no falar e no gesticular para expressar da melhor maneira possível a mensagem de Deus, atraindo a atenção do ouvinte, conduzindo-o a uma reflexão, aceitação e prática do exposto; assim, também, almejamos com o ritmo na música.

Enfim, um tipo de música que traduza adoração; mantendo o foco no Adorado, mas, estimulando o adorador a uma adoração verdadeiramente espiritual: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.” (Romanos 11.36).