Mês: março 2013

Razões para não cooperar

“Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hebreus 10.25).

Que motivo levaria o autor aos hebreus a fazer tal exortação? Evidentemente, o fato de alguns, por razões diversas, não congregarem. Pois bem, quais seriam as razões para o afastamento? Você consegue enxergar razões para o afastamento, e a não cooperação? O que levaria ao esfriamento espiritual?

Há razões aceitáveis, e recomendáveis para o afastamento, como o desvio herético e doutrinário. Mas, até nesses casos, o afastamento deve ocorrer após sérias e corretas tentativas de mudança. Há, ainda, a razão de não se adequar ao estilo da igreja (sem nenhuma agressão aos princípios eclesiásticos expostos nas Escrituras); nesse caso o indivíduo deve mudar de igreja e não lutar para mudar a igreja.

Há as razões equivocadas para o afastamento, como o estar chateado com algum irmão (Mateus 18.15ss); ou o discordar da decisão da maioria (Atos 16.4-5; Filipenses 2.1-4); ou o discordar em algum aspecto da liderança (Hebreus 13.17); ou mesmo ter sido preterido em alguma escolha (Filipenses 2.5ss). Provavelmente algumas destas compunham as razões que levaram os hebreus a se afastarem do convívio da igreja. E, por isso, o autor da epístola os exorta, mostrando que não são razões aceitáveis para o afastamento.

Mas, quero destacar algumas das principais razões que levam crentes a se afastarem de suas igrejas; e, consequentemente, do Senhor.

1. Pecado.

Escondido, secreto, criado, alimentado, e não confessado ao Senhor. (Hebreus 3.12-13) Isto esfria a alegria, e faz a pessoa valorizar as falhas e erros, mesmo quando estas verdadeiramente não existem. Exemplos: (1) A pessoa tem inclinação à infidelidade, e, então, procura erros para não dar os dízimos e as ofertas. (2) A pessoa tem inclinação a não ser assídua e participativa, e então, procura razões para não estar sempre nas programações. Por que a pessoa age assim? Porque é uma forma de esconder, ou de diminuir seu próprio erro. É uma tentativa de enganar a própria mente. Por isso a exortação para renová-la (Romanos 12.1-2).

2. Hipervalorização do “eu”.

Quando a pessoa se vê superior às outras, e acha que merece ser priorizada quanto às suas sugestões, escolhas, etc. Quando a pessoa tem cuidado exagerado com sua imagem, e não admite ser preterida, crendo que assim está sendo exposta ao ridículo. Quando a pessoa tem dificuldade de convivência, não sabendo ouvir; mas exigindo ser ouvida. Não sabendo ajudar, contribuir; mas exigindo participação efetiva dos outros diante de algo que comanda. Encarando tudo como pessoal – se alguém foi contra a alguma ideia, é contra a sua pessoa; logo, muda, inclusive, sua forma de agir para com ela.

3. Imaturidade.

É quando a pessoa não tem razão específica, não tem sequer argumentos; mas é contra. Não se dá nem a experimentar aquilo que está sendo proposta; simplesmente é contra. O esquisito é que você pergunta o porquê, e as respostas normalmente são: porque é errado; não é bom; não é legal; vai atrapalhar; etc. Nada realmente com conteúdo e que processe reflexão para, quem sabe, uma mudança de rumo. E o pior é que tendem a ser exagerados, buscando fortalecer sua posição: Não dá certo, todo mundo acha; a igreja inteira, quando na realidade é ela, ou talvez mais duas ou três pessoas. (1Pedro 3.8-12).

4. Visão errada do motivo pelo qual vivemos, agimos e cultuamos.

“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Colossenses 3.17, 23). Nossa motivação é o Senhor. Não pode ser alguém, a instituição, ou a estrutura administrativa; pois, neste caso incorremos em dois erros: (1) Errar no alvo de nossa adoração e dedicação. (2) E certamente se decepcionar em algum momento, pois seres humanos, e tudo aquilo que criam possuem falhas. Dessa forma corre-se o risco de perder a motivação.

A maturidade espiritual está em não precisar de razões terrenas, falíveis e passageiras para adorar ao Senhor, servindo-o com dedicação. O meu servir, o meu dizimar, o meu ofertar, o meu congregar, o meu participar, tudo é minha forma de adorar ao Senhor; por isso, devo procurar fazer sempre o melhor, pois é para Ele.

Salvos para glorificar

 

A salvação é pela graça, no sentido de que é um presente de Deus a quem mereceria o juízo eterno. Não é por merecimento; não é por aquisição; não é por troca de favores. Em sua eternidade, Deus amou e nos escolheu para seu povo. Assim, planejou, e providenciou para que seu plano fosse executado. Isso está revelado em textos como o de Isaías (43.10-13): “Vós sois as minhas testemunhas; diz o Senhor, o meu servo a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador. Eu anunciei salvação, realizei-a e a fiz ouvir; deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor; eu sou Deus. Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?”.

Essa salvação não se deu com o fim de ficarmos livres; nem com o objetivo de que, sendo livres vivêssemos autonomamente. Não há liberdade; nem espaço para libertinagem (modo libertino, irresponsável de viver). Assim há uma salvação que nos amarra a um plano previamente estabelecido; cujo caráter é definido pelo autor do plano – Deus.

Seguindo o entendimento básico do texto, nossa tarefa, incluída em nosso novo estado, é a de testemunhar. E este testemunhar deve ser amplificado à luz do que a Revelação exige. Então, objetivamente, consideremos suas implicações.

1. Implica em adoração.

Como expõe o texto: “vós sois minhas testemunhas”. Esta palavra tem a ver com a esfera legal ou judicial. Aquele que pode confirmar legalmente. Aquele que assina um acordo. Aquele que pertence ao contexto do tratado. E nesse caso somos diretamente os beneficiados, pois somos testemunhas da ação de Deus em nosso favor; isto é, recebemos os benefícios de um acordo gracioso, e podemos, então, declarar nossa identidade e os benefícios recebidos por sua consequência. Por isso, ele afirma: “para que o saibais, e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá”.

 O resultado desta ação graciosa de Deus, e dos benefícios que chegam até nós, deve ser testemunhado em adoração. Reafirmar a identidade do Salvador e beneficiador; e dispensar-lhe gratidão. Assim, a adoração está ligada, primeiramente ao conhecimento de Deus. É necessário conhecer aquele do qual temos de testemunhar. Por isso, a ênfase no texto: “para que o saibais, e me creiais, e entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador”. Sem conhecer é impossível falar de alguém, quanto mais testemunhar acerca de quem é a pessoa, e do que ela faz.

A adoração também está diretamente ligada ao ter uma experiência de relacionamento com Deus; pois ela também implica em espírito de gratidão. Isto é, compreender que os benefícios recebidos vêm do Senhor. Não somente a exclusiva salvação, mas também seu desenvolvimento – libertação da escravidão do pecado; capacidade de discernir; visão amplificada do mundo e da vida; poder para mortificar os feitos da carne; poder para mudanças profundas no caráter; poder para perdoar, para amar, para cuidar, para doar-se, entre tantos outros benefícios. Somente em experimentar tais coisas, tornar-se possível adorar ao Senhor com espírito de gratidão. É o que Paulo exorta aos colossenses (3.16): “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão em vosso coração”.

2. Implica em proclamação.

Como prova viva da ação poderosa e benéfica de Deus, devemos proclamar tais coisas. Proclamar a ação soberana do Senhor: “Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?”. Eu sou testemunha, nada pode impedir sua determinação. Interessante a forma como o texto é concluído. Uma pergunta que pressupõe uma reação imediata das testemunhas, respondendo que absolutamente nada pode impedir a ação do Senhor, já que ele é Senhor; e que suas testemunhas são prova viva de sua ação no mundo.

Escolhi o texto em Isaías, representando o Primeiro Testamento, para mostrar que esta realidade revelada se dá em toda a Revelação; e, portanto, se estende tanto a Israel como a Igreja. É a realidade daquele que pertence ao Senhor; daquele que se torna parte de Seu povo. E para comprovar esta realidade estendida também no Segundo Mandamento, quero considerar o texto de 1Pedro 2.9-10: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia”.

 Esta proclamação exortada por Pedro tem duas implicações. Primeiramente, refere-se, especialmente a algo a ser compartilhado aos incrédulos, aos de fora do povo. A palavra usada por Pedro tem o significado primário de “contar para fora”. Logo, o foco aponta prioritariamente para aquilo que a igreja chama de evangelização. Mostrar, expor Deus aos outros. Esta perspectiva segue a revelada do Primeiro Testamento, como no texto de Isaías que consideramos.

E uma segunda implicação desta proclamação é encontrada no significado secundário da palavra usada por Pedro de “proclamar por toda a parte, publicar completamente”. O foco aponta para uma proclamação que para ser completa deve incluir o todo de quem a proclama; logo, deve ser algo que vá além do discurso, incluindo sua experiência de vida.

É por isso que o evangelho soa como uma proclamação escandalosa para muitos, quando misturado com um testemunho que destoa de seu conteúdo. É um escândalo para qualquer um o apresentar o Deus Santo e transformador da vida, tendo uma vida envolvida em pecado e um caráter duvidoso, ou claramente desqualificado.

Por isso que o Senhor através de Isaías afirma que: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador. Eu anunciei salvação, realizei-a e a fiz ouvir; deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor; eu sou Deus”. É preciso ser testemunha. É preciso que a vida testifique as palavras de que Deus salva e transforma. E de que vale a pena.

É por isso que o Senhor através de Pedro afirma que: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Houve mudança em nossa identidade, em nossa participação coletiva; e esta mudança deve redundar em proclamar o Senhor da mudança.

3. Implica em servir.

E, como parte deste testemunho, somos conduzidos a servir. O termo é aqui usado tanto como ênfase – testemunhamos ao servir, servimos ao testemunhar – quanto para especificar nossa ligação com Cristo, o Servo escolhido (Isaías 42.1; 53.11).

E, seguindo seu exemplo, este servir implica em atuar em benefício de Seu povo, de Seu corpo; hoje, a igreja; naquele tempo, Israel. “Vós sois as minhas testemunhas; diz o Senhor, o meu servo a quem escolhi”. A ideia de servir está difundida em toda a Revelação. O próprio Senhor Jesus Cristo afirmou que isto estava implícito em seu ministério, e que o mesmo se daria a todos os seus (Mateus 20.26-28).

E, por isso, os apóstolos, como Pedro, ensinou a igreja a fazê-lo (1Pedro 4.10-11). O servir está implícito em ser povo de Deus; em ser discípulo de Cristo, e ter de fazer como o Mestre. A capacidade de servir está incluída no projeto do Senhor (dons, v.10). E o propósito deste servir é o mesmo da proclamação e adoração: glorificar a Deus (v.11).

Fomos salvos para quê?

Não fomos salvos simplesmente para sermos libertados da escravidão do pecado, ou livrados da condenação eterna. Não fomos salvos para perambularmos pelo mundo, admirando, suspirando e ansiando por coisas que preenchem a alma daqueles que não vivem com Deus; como se estivéssemos desconectados dEle.

Fomos salvos para servir ao Senhor e aos seus propósitos. Fomos salvos para testemunhar do Salvador, proclamando sua glória e cantando sua graça; e, salvos para servir, em conformidade com o dom que recebemos.

Este tem de ser o propósito de nossa nova existência. E, não há outro sentido e propósito para nós, revelado nas Escrituras.

O quanto sua vida e seu servir tem redundado em glorificação ao Senhor?

Por quê?

Pergunta que revela a existência de um enigma, algo não entendido, e que geralmente dói. É preciso que o não-entendido doa para que surja a pergunta. Há muitas coisas que não entendemos, mas elas não doem. Não doendo, a pergunta não surge. Fazemos a pergunta numa tentativa de diminuir a dor, para dar sentido à dor.

– Por que você falou desse jeito?

– Por que não me ligou?

– Por que quer terminar o relacionamento?

Quem pergunta “por quê?” deseja uma resposta. Quer uma explicação, pois uma dor explicada é uma dor que dói menos (às vezes). Mas existem situações em que a pergunta surge sem esperança de resposta. E, mesmo que esta fosse dada, de nada valeria.

– Por que morreu?

– Por que nos deixou, partindo para o nunca mais?

– Por que não passei?

Na realidade não se espera uma resposta. O “por quê?” é um grito de protesto dirigido aos céus, um urro que nenhuma resposta explicará ou consolará. Grito que se grita diante da dor sem consolo. Em horas assim não há ateus. Se a cabeça diz que Deus não existe, o coração afirma que tem de existir.

Respostas teológicas surgem em ritmos divergentes, porém, apontando para uma mesma direção, numa tentativa de declaração: a explicação das razões baseadas no relacionamento entre o Deus onipotente (para alguns, transcendente, para outros, imanente, e ainda para alguns, tão um quanto o outro) e o homem, tão carente.

Diante de um “por quê?” a resposta divina é ansiada, porém, o que menos se espera – e é exatamente o que mais ilude e faz doer – é por uma resposta humana travestida como divina. É a postura de consciente ou não servir de porta-voz, ou intérprete do Criador; assumindo, assim, sacerdócio exclusivo. É a loucura de achar que se não houver uma resposta a todas as nossas perguntas, Deus perde seu posto e função de Soberano. É a tentativa ousada de domesticar a Deus, levando-o a concordar e a discordar com toda a vontade do abusado adestrador. Respostas assim causam mais sofrimento, além de orientar mal, guiando seu ouvinte a uma crença insana.

O Deus revelador, em muitos momentos em sua Revelação, ficou em silêncio, deixando o homem sem resposta para algumas indagações. E, mesmo, revelando somente aquilo que achou interessante, necessário. É mais fácil acreditar na limitação e ignorância do homem do que na impossibilidade do Criador. Isto nos ensina que há resposta para tudo, porém, que nem sempre deve ser revelada.   Assim, há espaço para que alguns dos meus “por quê?” fiquem no ar, como desabafo, ou mesmo dúvida. Melhor assim, do que as respostas humanas travestidas de divinas.

De qualquer forma, eu estou aqui, Deus também, além de lá; e continua a me guiar; respondendo ou não ao meu “por quê?”.

Homenagem ao meu Rio de Janeiro

Homenagem ao meu Rio de Janeiro

Aniversário de 448 anos da Cidade Maravilhosa