Mês: fevereiro 2013

Tendências religiosas em nossos dias

Pluralidade

A nomenclatura em voga é Ciência da Religião. A preocupação principal se resume em dois pontos: O primeiro, qual seria a terminologia adequada – Ciência da religião, ciências da religião ou ciências das religiões? O que não é simplesmente uma questão de título, mas sim de delimitação do campo (prefiro Ciência da religiosidade). O segundo ponto é em não abrir espaço para a velha teologia confessional mascarada, ou maquiada como ciência. Isto porque ciência da religião é o estudo das hierofonias, ou seja, o sagrado em suas múltiplas manifestações. Este sagrado é um elemento estrutural da consciência e não uma fase da história dessa consciência. Nos mais arcaicos níveis de cultura, viver como ser humano é em si um ato religioso, pois a alimentação, a vida sexual e o trabalho têm um valor sacramental. Por outras palavras: ser – ou, antes, tornar-se – um homem significa ser ‘religioso’”[1]. O Brasil, pela peculiaridade de suas crenças, de seu universo mítico-religioso, é um celeiro para estudiosos que querem se dedicar a pesquisas do fenômeno religioso.

Todas as escolas que hoje oferecem Ciência da Religião como disciplina, seguiram a trajetória que teve como ponto de partida um departamento de clérigos (mesmo em universidade pública) e uniconfessional, para, em seguida, passar por um processo de desclericalização e descatolização ou desprotestização; alcançando atualmente a fase da desmasculinização. Todo este processo revela que vivemos não só um tempo de mudança, mas de mudança de tempo. E este tempo é fortemente marcado pelo pluralismo religioso. O que indica a volta do sagrado, porém numa nova roupagem, mais livre, solta, móvel, sem residência fixa [em sua visão], na realidade sem referencial [em minha visão].

Para muitos, a teologia acorda de seu sono dogmático, deitada há séculos, para se deixar ser interpelada pelo surto do sagrado, sendo obrigada a repensar sua linguagem para falar a um mundo plural. Assim, a teologia necessita renovar-se frente ao novo paradigma do pluralismo religioso. Devendo se enveredar pelo caminho da hermenêutica da vida humana, isto é, uma teologia do sentido ou do significado. Fazendo do teólogo um mero caçador de sentido.

Ciência da religião, diferentemente da teologia, não se debruça sobre o dado revelado, mas sobre o fenômeno religioso. Não traz uma abordagem confessional do fenômeno, mas uma abordagem fenomenológica. Para os novos orientadores religiosos, passamos do diálogo das culturas para o diálogo das religiões. Isso implica em abandonar um paradigma exclusivista para adotar um novo paradigma pluralista, isto é, deixar de ser Igreja detentora da verdade para encontrar-se com as diversas religiões, enriquecendo-se com as mais diferentes formas de expressão do sagrado.

Esta linha de compreensão, e imposição, sobre o ensino religioso revela a essência da religiosidade de nosso tempo: alvo e método; aonde se quer chegar e como chegar. Simplificando, vivemos imprensados por uma disposição em aniquilar com a verdade, abrindo espaço para as verdades, mesmo que incoerentes. O inimigo comum não é a(s) inverdade(s), mas sim a verdade única, absoluta, asfixiadora dos prismas particulares, das diversas intenções acadêmicas, políticas, econômicas e espirituais.

Tudo isso forma uma atmosfera facilitadora para novas tendências; que, em muito, são velhas tendências em novas roupagens; agora, mais corajosa em se expor, devido à atmosfera atual, como o Teísmo aberto: a ideologia mais coerente da escola mais incoerente da teologia – o arminianismo; que tenta, assim, construir coerência para a incoerência.

Todas as tendências tornam-se possíveis pelo fato do foco estar não no âmago do conhecimento crido, ensinado e defendido; mas sim na possibilidade de se crer em qualquer coisa, por mais absurda que seja. A beleza a ser entendida e conservada que, segundo eles, é suficiente para a manutenção da crença está no religioso; no produto final da crença naquele que a exerce. Assim, não importa a religião; ou mesmo o conteúdo desta (sua teologia); mas a liberdade do exercício em se crer. Isso revela a cicatriz que a Igreja deixou nas sociedades no decorrer de sua história pré-moderna. Há um pavor de religião institucionalizada, mas uma paixão sobre a religiosidade individual. Seria uma forma distorcida de se aplicar o verso: “Tudo é possível ao que crê” (Marcos 9.23b).

Ódio, medo, aversão, são alguns dos sentimentos mais comuns entre os estudiosos para com a Igreja, como maior representante histórica da religião institucionalizada. É importantíssimo que os teólogos cristãos de nossos dias conheçam a história, assim como seus resultados, incluindo a época em que vivemos, para, então, serem corretos em seu proceder no educar a igreja, no formar novos líderes, e no defender a fé.


[1] ELIADE, M. Tratado de História das Religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 7.

Formadores de caráter

218329“E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6.4).

“Papai, quero ficar com você”. Esta declaração de um menino de três anos de idade foi feita três vezes antes que o pai levantasse os olhos do que fazia. O pai o havia mandado para a cama diversas vezes. Toda vez, ele dizia simplesmente: “Papai, quero ficar com você”. Daí, para conseguir a atenção do pai, fez uma dúzia de perguntas. Quando o pai parou de escrever, ele perguntou: “Papai, por que parou de escrever?”, e “o que você está pensando agora, papai?”. Quando o pai começou a escrever de novo, ele indagou: “O que você está escrevendo, papai?”.

Finalmente, quando viu que seu pai o ignorava e que estava meio aborrecido com suas interrupções, desceu lentamente do banquinho em que se encontrava e disse baixinho: “Acho que vou deitar agora, papai”.

Foi então que o pai percebeu. Seu filho estava dizendo à sua moda: “Papai, tire um pouquinho de tempo para mim. Por favor, papai, converse comigo”.

Quando virava o canto da escada, o pai o chamou: “Joelzinho venha aqui, deixe papai segurar você antes de ir para a cama. Quero conversar com o meu garoto um pouco”.

Com um grande sorriso, ele veio. Depois de um pequeno tempo, quando ele foi para a cama, ficou pensando na frequência com que suas ocupações o levavam a perder oportunidades preciosas de compartilhar seu amor com seu filho.

O momento de amar é agora. Amanhã é tarde demais para balançar o nenê. Amanhã o pequenino não estará fazendo perguntas. Amanhã o escolar não precisará de ajuda com a lição de casa. Tampouco trará para casa seus amigos para participar das diversões da família.

Ele faz perguntas?

É hora de revelar nosso interesse, além de nossa utilidade.

Ele pede ajuda na lição do colégio?

É hora de alimentar esta confiança, e sua disposição.

Ele pede ajuda na lição da igreja?

É hora de mostrar que Deus é verdadeiramente importante.

Ele quer trazer os colegas para casa?

É hora de acostumá-lo no ambiente familiar.

Ele quer brincar conosco?

É hora de revelar nosso carinho, para que mais tarde ele faça o mesmo por nós.

Devemos ser construtores (formadores) e não deformadores de caráter. Esta é a ideia de Paulo no texto aos efésios: termos o cuidado de, como pais, não influenciar nossos filhos ao afastamento do Senhor. Não devemos ser responsáveis em provocar nossos filhos a uma vida que mereça o juízo de Deus; mas, ao contrário, a serem amigos do Senhor.

O Silêncio que antecede a ação

silencio

“Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida” (Habacuque 1.2-4).

 “Até quando, Senhor?” É uma tremenda ousadia! “Até quando o senhor vai ficar parado, sem fazer nada?”. Ele está perplexo com a demora de Deus em tomar uma decisão. Na realidade, não se trata de um desaforo, mas, sim de um profundo anseio por justiça. “Gritar-te-ei: Violência!”. O profeta está vendo a violência em seus dias. Sabe que Jeová é o Deus da justiça. No entanto, esta não se verifica. O profeta, identificado com os oprimidos, clama por socorro. O seu até quando é um grito de angústia.

O versículo três reflete bem a razão da angústia de Habacuque: “Iniquidade, opressão, destruição, violência, contendas e litígio”. O quadro não é animador. Sendo um profeta, Habacuque vê tudo e se aflige. Como Deus vê e fica impassível? Por que não interrompe o quadro, punindo de vez os transgressores?

“Por esta causa” (4), porque há iniquidade, opressão, destruição e violência e Deus está aparentemente omisso, a lei se afrouxa. O termo para “justiça” neste texto significa “julgamento”. Os julgamentos eram injustos, pois os juízes também estavam corrompidos. A corrupção da justiça é o caos em qualquer nação. É o mergulho na desordem total e o ponto final nas esperanças dos pobres.

Como seria bom se Deus interviesse! Se ele punisse os murmuradores com a morte, como fez com Corá, Datã e Abirão (em Números 16), por certo não haveria murmurações em nosso meio (ou, pelo menos, diminuiriam). Como seria bom se Deus punisse os mentirosos, como fez com Ananias e Safira em Atos 5. Não haveriam mentirosos em nossas igrejas; tampouco gente buscando a preeminência. Como seria bom se Deus punisse os criminosos, os bandidos e todos os que andam errados….. Mas, se Deus punisse com a morte todos os que erram, quem sobraria? Se Deus, em todo momento interviesse que espécie de mundo seria este? Qual seria o mérito da virtude, da persistência, e da fidelidade em meio à tribulação?

A queixa inicial de Habacuque em seu livro nos traz duas conclusões: E a primeira é a de que o povo de Deus também peca. E por vezes os seus pecados são desprezíveis. Não nos orgulhemos, presumindo-nos melhores que os do mundo. A grande diferença entre nós e eles é a graça de Cristo que opera em nós. Pois, muitos dos pecados que a igreja combate no mundo, ela os pratica.

Certa professora da EBD contou para os seus alunos a parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18.10-14). Após contar a história, disse a professora: “Agora, meus filhinhos, vamos dar graças a Deus porque não somos como aquele fariseu!” Nem se deu conta que cometeu o mesmo pecado: a soberba de se presumir melhor que outros.

O fato de que somos pecadores e que o pecado é encontrado em nosso meio deve nos levar a cuidar bem de nossa vida e a não nos orgulharmos de nossas virtudes.

A segunda conclusão é a de que a fé nos leva a crer e a esperar por uma intervenção divina. Nem sempre a espera escatológica é escapismo e imobilismo. Pode significar que cremos em um Deus moral que pune o mal e que recompensa o bem. E é por isso que Habacuque se torna tão atraente: é que, como ele, nós também aguardamos ansiosos, o triunfo do bem sobre o mal. Aguardarmos a ação de Deus contra a manifestação do pecado, da injustiça.

Assim, não presumamos que o silêncio de Deus seja um indicativo de sua apatia, pois não o é, como observamos no estudo deste livro. O silêncio de Deus tem sido difícil de ser admitido; mas isso não quer dizer que não haja uma resposta e que a sabedoria divina é incapaz de lidar com a situação. Tudo está sob o seu olhar e todas as coisas estão debaixo de seu controle. Ele não se apavora nem se precipita.

Em toda a Bíblia, o silêncio de Deus antecede uma ação que varia entre juízo, bênção, e disciplina. A Habacuque Deus parecia apático porque não falava. Estava em silêncio. Mas, como se observa no desenrolar de sua narrativa, ele saiu do silêncio. Saiu para efetuar juízo.

Ele parece silencioso em nossos dias? O temos como apático, omisso? Lembremo-nos de que o seu silêncio precede sua ação. Se Deus está em silêncio é porque vem ação por aí.

O amor é qualificador

Best Friends

“O amor deixa as pessoas abobadas”. Já ouviu esta expressão, ou algo semelhante? A ideia é a de que o indivíduo que está amando não enxerga a realidade; isto é, não percebe os defeitos do outro, assim como as coisas erradas e ridículas que faz (ou fazem).

Li outro dia esta afirmação: “O amor realmente torna as pessoas fracas mesmo, veja as mulheres, ficam cegas e fazem loucuras e os homens (em menor grau) também fazem. Quem é bom e tem amor nunca chega ao poder é usado e abusado e nunca consegue ter o poder, pois é dominado por um sentimento que o torna fraco e inimigo de si mesmo, ficando assim na mão da pessoa a qual ele ama. O amor faz você se preocupar com os outros, e você acaba ficando em segundo plano. O amor faz você sair da realidade do mundo, e você acaba caindo na armadilha. O amor é a palavra que deram para o sexo em uma forma mais bonita pois o amor acaba”.

Maquiavel afirmou que um príncipe nunca deve demonstrar amor; pois o amor o torna fraco, e acaba; mas o medo das pessoas não. Ele tinha esta filosofia, e a maioria dos políticos, empresários de sucesso e grandes executivos seguem a mesma filosofia.

Que coisa! Será que tudo isso se refere realmente ao amor? Ou será que o sentimento em questão diz respeito a algo de menor proporção temporal, e qualitativa em seu todo; mas de acalorada proporção sentimental, como a paixão?

Vejamos o que as Escrituras revelam acerca do amor: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13.4-7).

 Interessante, pois as características do amor na pessoa, como demonstrado no texto, parecem conduzir à qualificação pessoal. E isto, evidentemente, qualifica a pessoa para todas as coisas e áreas; pois, qual a parte da vida que o pessoal não está incluído, por meio do entendimento, da avaliação, das ações e reações, e dos relacionamentos?

Paciência, bondade; assim como não se ressentir do mal; não ser irritadiço, e prepotente, são características desejadas por todos; porém, com pouquíssimas conquistas. Para a maioria das pessoas são como utópicas; isto é, lindas e desejáveis, mas não alcançáveis.

E o que dizer do ter domínio próprio? Sim; pois, o amor qualifica a pessoa a não ser controlado pelo ciúme; assim como a não ser cego devido ao orgulho; bem como a não se conduzir inconvenientemente. O amor torna a pessoa justa, inimiga da injustiça e amiga da verdade. Enfim, o amor torna a pessoa forte o suficiente para sofrer, crer, esperar e suportar; vivendo equilibradamente segundo aquilo que crê.

E o mais interessante é que tudo isso tem uma consequência benéfica para a pessoa que ama. O texto afirma: “o amor não procura os seus interesses”. Ao contrário do que afirmam alguns, pensar e agir em benefício do outro traz benefício para o próprio agente do bem. Se eu amo minha esposa, e por isso me relaciono positivamente com ela, procurando os seus interesses; a recompensa é a de ser também amado; e por isso, cuidado por ela. Alguns certamente diriam: “Mas e quando eu amo e não sou correspondido, isto é, sou traído por aquela que foi alvo de meu amor?” Eu respondo, afirmando ser possível que isto aconteça devido a pecaminosidade existente; porém, na maioria das vezes eu indagaria: “Você realmente a amava, se relacionando com ela conforme as características expostas no texto acima?”. Na maioria das experiências negativas, percebe-se a ausência do amor real, com suas características não sendo evidenciadas, por nenhuma das partes. A consequência para estes relacionamentos, evidentemente, não pode ser boa.

Quando amamos verdadeiramente, evidenciando tais características, somos qualificados. E mesmo diante de alguma possível trairagem, somos fortalecidos a amar; pois nos tornamos pessoas melhores para nós mesmos, e para os outros. Por que será que diante de uma trairagem o lado desqualificado é que tem de prevalecer, influenciando negativamente? Afinal, aquele que não ama revela fraqueza e covardia, por meio de um caráter indigno, e de uma conduta inconveniente. Enquanto o que ama é qualificado a “tudo passar, tudo crer, tudo esperar e tudo suportar”. O amor qualifica; portanto, vale a pena amar.

Passos determinantes

passos-areiaPassos determinantes

Passos que desenham o viver

Para a vida de todo o que crê

Ser correto o andar vaidoso

Em busca de algo rendoso

O orgulho leva a ignorância

A ignorância a impaciência

A impaciência ao desamor

Finalizando no desprimor

Só um coração quebrantado

Transforma os passos do coitado

Produz a bela humildade

Conduzindo a suave unidade

Vivenciada pela mansidão

De quem foi alvo da compaixão

Wagner Amaral