Mês: outubro 2010

Morrendo para viver

Completo hoje 40 anos de idade. Quem diria…

Não faz muito tempo que sequer tinha noção do que seria ter esta idade, que mais apontava para a velhice do que a maturidade. Uma criança disse ontem pra mim: “o senhor tá mais pra idoso!”. Uma risada gostosa foi minha reação, lembrando-me de minha infância, quando tinha definição semelhante.

Iniciando a época da maturidade entendo que nem sempre recebemos aquilo que achamos merecer, assim como nem sempre damos o que devemos às pessoas (quanta vingança, quanta pequenez!). Presentes, reconhecimento, motivação para continuar, quando não, pelo menos, para apontar que estamos no caminho certo. Mas, o que sinceramente representa tudo isso? Marcas de nossa humanidade, de nosso ego.

Às vezes olho para mim e me acho como o vinho – quanto mais velho melhor, e às vezes me considero ultrapassado. Não sei bem como unir estes diagnósticos, não tenho certeza do sabor resultante desta mistura, principalmente porque em momentos de lucidez concluo que o melhor de mim é aquilo que não sou e não tenho. Descamando minha humanidade enxergo a amarração àquilo que é seguro, puro, coerente e carinhoso; vejo Deus soberanamente determinado a me fazer gente, persistindo em gravar em mim a sua marca.

Preciso morrer!

Sim, preciso, conscientemente, morrer, para que Deus seja visível em mim. Os cabelos brancos, rugas, dores, “tradicionalismo”, assim como o conhecimento, o raciocínio, a expressão do que sei, sou e tenho, tem de redundar em louvor e honra ao Senhor.

Sem demagogia, quem sabe a partir de agora aprenderei a morrer? Afinal, esta é a melhor maneira de viver!

Hoje, 26/10/2010, completo 44 anos. Há quatro anos escrevi este texto, refletindo sobre meu aniversário. Durante este tempo a realidade da morte tem sorrido para mim, tanto no envelhecimento físico como no entendimento de que não somos senhores de nada; muito menos de nosso próprio destino.

É claro que temos participação ativa em tudo, caso contrário o que seria a reflexão? Mas, aprendemos que há uma enorme distância entre participação consciente e senhorio.

Assim, continuo morrendo. E ao perceber e lidar com esta morte vivo melhor.

E você?

Expectativa política

Apesar da costumeira desconfiança e das comprovadas maracutaias que nos desmotivam a participação política, somos chamados a responsabilidade, a cidadania[1], produzindo o cuidado divino nas exortações para com as autoridades, os governos; afinal, estes dizem respeito à nossa vida diária:  moradia, alimentação, estudos, saúde, religiosidade, esportes, liberdade de expressão, segurança, emprego, … Consciente ou não a política nos move, nos envolve.

Isto fica mais claro em época de eleição, quando a população é impactada pelas discussões, e gostos, que, às vezes, mais se identificam com torcidas de futebol, prevalecendo a paixão; o gosto particular desnudo de razão, mas repleto de sentimentos.

Como cristãos a responsabilidade é iniciada pela necessidade de consciência política, o que biblicamente se encaixa no famoso, mas difícil, discernimento. Discernimento em escolher bem, mediante acurada investigação e análise do candidato e de seu programa. Discernimento na cobrança da conduta do candidato “eleito”, conforme programa pré-estabelecido.

Infelizmente, a igreja tem-se mostrado inoperante quanto a esta tarefa em fases de sua história, tornando-se medíocre em suas críticas, assim como a maior parte da sociedade que participa efetivamente da destruição do patrimônio público e privado, que não coopera com a manutenção da cidade, que não contribui com idéias e trabalho, mas que diante da conseqüência prejudicial de seu próprio descaso, irremediavelmente culpa o “governo” por toda catástrofe existente.

Diferentemente destes, a igreja, que tem a responsabilidade de ser “sal na terra” e “luz no mundo” tem de assumir sua tarefa que se apresenta de forma implícita e explícita. Implicitamente, honrar, obedecer, cumprir a lei, rejeitando o jeitinho brasileiro que em nada se alinha ao padrão de santidade de seu Senhor.

“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele […]  Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.   Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei.” (1 Pedro 2.13-17)

“Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos.” (Tito 3.1-2)

Ao contrário de se entregar à tentação do falar mal, do difamar, a igreja deve interceder por aqueles que são autoridade, por decisão do Senhor.

“Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade.” (1 Timóteo 2.1-2)

É impressionante como o “povo de Deus” encontra enorme facilidade e disposição de passar e-mail’s e de conversar difamando e criticando as autoridades governamentais, mas, em contrapartida encontra teimosa dificuldade em orar, interceder em favor destes. Parece que a igreja sofre de amnésia quanto a esta tarefa.

Explicitamente, a tarefa da igreja é a de proclamar a verdade, o evangelho, que traz a mensagem de Deus quanto a salvação e a vida (o que inclui, em muito, a política). O evangelho é o poder de Deus para salvação (Romanos 1.16). É a lei de Deus para a mudança de vida, que envolve santificação (Filipenses 3.12-16). É a proclamação da ética divina que realça o amor, a imparcialidade, desnudando a mentira, o orgulho, a inveja, a dissensão (Provérbios 6.16-19; 11.1-2; Colossenses 3.5-11; Tiago 3.13-18).

Mediante este proceder a igreja tende a uma expectativa realista. Fico surpreso com o cristão (principalmente o líder) que se surpreende com a corrupção, a conduta pecaminosa entre os políticos, deixando-se desanimar, abater. Qual a surpresa? O que esperar de pessoas que não tem o Senhor como seu Deus? Ele já afirmara que este mundo jaz no maligno (1 João 5.19) e que o homem natural não entende as coisas espirituais (1 Coríntios 2.14-16); então, o que esperar, perfeição, ética impecável? O cristão que assim se apresenta ou não conhece as Escrituras devidamente ou não leva a sério as afirmações de Deus. É exatamente por isso que somos chamados a fazer a diferença no mundo. Assim, nossa expectativa não deve ser a de perfeição por parte destes, algo impossível até a nós, enquanto possuidores desta natureza pecaminosa.

Neste aspecto o pastor é figura essencial. Em época de eleição (fase atual), o pastor tem a responsabilidade de ensinar ao povo o exposto até aqui por meio de sua conduta, de seu exemplo, e de suas palavras. Mas deve também ensinar o povo a votar, e isto inclui o entendimento de que a pessoa está escolhendo um líder político não um líder religioso. Esta idéia de que crente vota em crente surgiu da mente de quem espera alcançar votos, muitos votos. Escolhemos pessoas que farão e que executarão leis. E esta escolha considera que este líder tem de ser avaliado por seu caráter (o aceitável, levando-se em conta a realidade humana), isto inclui a família. Tem de ser avaliado por sua visão, por suas opções de governabilidade, e também, avaliado por seu trabalho, seu currículo.

O pastor cumpre com seu papel ajudando as pessoas a escolherem bem seus candidatos, através dos princípios bíblicos e éticos existentes. Não é tarefa do pastor escolher os candidatos para as pessoas, mas sim instrui-las à assumirem, com maturidade, sua responsabilidade, sendo cidadãos exemplares, mesmo que estejamos neste mundo, não sendo todavia literalmente dele (João 17.14-18).

Faço a minha parte para com a igreja, enxergando a realidade da ação de Deus transformando-a, mas também enxergando a realidade de suas imperfeições. Afinal faço parte dela.


[1] Responsabilidade e gozo dos direitos civis e políticos de um Estado.

O amor é qualificador

O amor deixa as pessoas abobadas. Já ouviu esta expressão, ou algo semelhante? A ideia é a de que o indivíduo que está amando não enxerga a realidade; isto é, não percebe os defeitos do outro, assim como as coisas erradas e ridículas que faz (ou fazem).

Li outro dia esta afirmação: O amor realmente torna as pessoas fracas mesmo, veja as mulheres, ficam cegas e fazem loucuras e os homens (em menor grau) também fazem. Quem é bom e tem amor nunca chega ao poder é usado e abusado e nunca consegue ter o poder, pois é dominado por um sentimento que o torna fraco e inimigo de si mesmo, ficando assim na mão da pessoa a qual ele ama. O amor faz você se preocupar com os outros, e você acaba ficando em segundo plano. O amor faz você sair da realidade do mundo, e você acaba caindo na armadilha. O amor é a palavra que deram para o sexo em uma forma mais bonita pois o amor acaba.

Maquiavel afirmou que um príncipe nunca deve demonstrar amor; pois o amor o torna fraco, e acaba; mas o medo das pessoas não. Ele tinha esta filosofia, e a maioria dos políticos, empresários de sucesso e grandes executivos seguem a mesma filosofia.

Que coisa! Será que tudo isso se refere realmente ao amor? Ou será que o sentimento em questão diz respeito a algo de menor proporção temporal, e qualitativa em seu todo; mas de acalorada proporção sentimental, como a paixão?

Vejamos o que as Escrituras revelam acerca do amor: O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera,  não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo  espera, tudo suporta (1 Coríntios 13.4-7).

Interessante, pois as características do amor na pessoa, como demonstrado no texto, parece conduzir à qualificação pessoal. E isto, evidentemente, qualifica a pessoa para todas as coisas e áreas; pois, qual a parte da vida que o pessoal não está incluído, por meio do entendimento, da avaliação, das ações e reações, e dos relacionamentos?

Paciência, bondade; assim como não se ressentir do mal; não ser irritadiço, e prepotente, são características desejadas por todos; porém, com pouquíssimas conquistas. Para a maioria das pessoas são como utópicas; isto é, lindas e desejáveis, mas não alcançáveis.

E o que dizer do ter domínio próprio? Sim; pois, o amor qualifica a pessoa a não ser controlado pelo ciúme; assim como a não ser cego devido ao orgulho; bem como a não se conduzir inconvenientemente. O amor torna a pessoa justa, inimiga da injustiça e amiga da verdade. Enfim, o amor torna a pessoa forte o suficiente para sofrer, crer, esperar e suportar; vivendo equilibradamente segundo aquilo que crê.

E o mais interessante é que tudo isso tem uma consequência benéfica para a pessoa que ama. O texto afirma: o amor não procura os seus interesses. Ao contrário do que afirmam alguns, pensar e agir em benefício do outro traz benefício para o próprio agente do bem. Se eu amo minha esposa, e por isso me relaciono positivamente com ela, procurando os seus interesses; a recompensa é a de ser também amado; e por isso, cuidado por ela. Alguns certamente diriam: Mas e quando eu amo e não sou correspondido, isto é, sou traído por aquela que foi alvo de meu amor? Eu respondo, afirmando ser possível que isto aconteça devido a pecaminosidade existente; porém, na maioria das vezes eu indagaria: Você realmente a amava, se relacionando com ela conforme as características expostas no texto acima? Na maioria das experiências negativas, percebe-se a ausência do amor real, com suas características não sendo  evidenciadas, por nenhuma das partes. A consequência para estes relacionamentos, evidentemente, não pode ser boa.

Quando amamos verdadeiramente, evidenciando tais características, somos qualificados. E mesmo diante de alguma possível trairagem, somos fortalecidos a amar; pois nos tornamos pessoas melhores para nós mesmos, e para os  outros. Por que será que diante de uma trairagem o lado desqualificado é que tem de prevalecer, influenciando  negativamente? Afinal, aquele que não ama revela fraqueza e covardia, por meio de um caráter indigno, e de uma conduta inconveniente. Enquanto o que ama é qualificado a tudo passar, tudo crer, tudo esperar e tudo suportar. O amor qualifica; portanto, vale a pena amar.

Unidade

Unidade

Bendito viver harmonioso

Entre vidas diversificadas

Traduzindo a imagem do Poderoso

Na participação entusiasmada

Bestial discurso unificado

Que impõe sua autoridade

Minando a expressão do laicato

Na utópica visão de unidade

Na busca de união

É melhor cultivar o coração

Pois Deus em sua longanimidade

Parece alegrar-se com a comunhão

Que cria robusta amizade

Entre aqueles que estendem a mão

Pr. Wagner Amaral