Mês: março 2016

Endireitamento

Os gregos antigos se organizavam socialmente em cidades-estados, conhecidas entre eles como pólis. O homem livre, grego, nascido na pólis, era chamado de politikós. Estes, eram os indivíduos que participavam das decisões acerca da condução da pólis. Reunidos nas Ágoras (praças gregas), deliberavam sobre a defesa da cidade, a construção do espaço público, as atividades econômicas e todos os assuntos relacionados com o contexto público e o bem comum. Nesse sentido, a política é uma prática ou ação humana voltada para a construção coletiva de um espaço público onde seja possível assegurar e vivenciar o bem comum. Aqueles que, diferentemente dos politikós, não participavam da vida pública, eram conhecidos como idiótes (mulheres, escravos, estrangeiros). Mais tarde esse termo foi usado pejorativamente para identificar os que possuíam limitações cognitivas para adequada compreensão e manifestação.

Apesar da costumeira desconfiança e das comprovadas maracutaias que nos desmotivam a participação política, somos chamados à responsabilidade, a cidadania, produzindo o cuidado divino nas exortações para com as autoridades; afinal, dizem respeito à nossa vida diária: moradia, alimentação, estudos, saúde, religiosidade, esportes, liberdade de expressão, segurança, emprego, dentre outros. Consciente ou não a política nos move, nos envolve.

Como cristãos a responsabilidade é iniciada pela necessidade de consciência política, o que, biblicamente, se encaixa no famoso, mas difícil, discernimento. Mas, infelizmente, a igreja tem-se mostrado inoperante quanto a esta tarefa em fases de sua história, tornando-se medíocre em suas críticas, assim como a maior parte da sociedade que participa efetivamente da destruição do patrimônio público e privado; que não coopera com a manutenção da cidade; que não contribui com ideias e trabalho, mas que, diante da consequência prejudicial de seu próprio descaso, irremediavelmente culpa o governo por toda catástrofe existente.

Diferentemente destes, a igreja, que tem a responsabilidade da diferença (sal na terra e luz no mundo), tem de assumir sua tarefa que se apresenta de forma implícita e explícita. Implicitamente, honrar, obedecer, cumprir a lei, rejeitando o jeitinho que em nada se alinha ao padrão de santidade de seu Senhor (1Pedro 2.13-17; Tito 3.1-2). Ao contrário de se entregar à tentação do falar mal, do difamar, a igreja deve interceder por aqueles que são autoridade por decisão Soberana (1Timóteo 2.1-2).

É impressionante como o “povo de Deus” encontra enorme facilidade e disposição de passar e-mails e de conversar difamando e criticando as autoridades governamentais; mas, em contrapartida, encontra teimosa dificuldade em interceder em favor destes. Parece que a igreja sofre de amnésia quanto a esta tarefa.

Explicitamente, a tarefa da igreja é a de proclamar a verdade, o evangelho que traz a mensagem de Deus quanto à salvação e a vida (o que inclui, em muito, a política). O evangelho é o poder de Deus para salvação (Romanos 1.16). É a lei de Deus para a mudança de vida, que envolve santificação (Filipenses 3.12-16). É a proclamação da ética divina que realça o amor, a imparcialidade, desnudando a mentira, o orgulho, a inveja, a dissensão (Provérbios 6.16-19; 11.1-2; Colossenses 3.5-11; Tiago 3.13-18).

Mediante este proceder a igreja tende a uma expectativa realista. Fico surpreso com o cristão (principalmente o líder) que se surpreende com a corrupção, a conduta pecaminosa entre os políticos, deixando-se desanimar, abater. Qual a surpresa? O que esperar de pessoas que não tem o Criador como referência? Ele já afirmara que este mundo jaz no maligno (1 João 5.19) e que o homem natural não entende as coisas espirituais (1 Coríntios 2.14-16); então, o que esperar, perfeição, ética impecável? O cristão que assim se apresenta ou não conhece as Escrituras devidamente ou não leva a sério suas afirmações. É exatamente por isso que somos chamados a fazer a diferença no mundo. Assim, nossa expectativa não deve ser a de perfeição por parte destes, algo impossível até para nós, enquanto possuidores desta natureza pecaminosa.

Neste aspecto o pastor (o líder) é figura essencial, ao exortar o povo a interpretar a realidade de seus dias, tendo como referência (1) as informações acerca da estrutura deste mundo e (2) os princípios de Deus para a vida. A primeira nos mantém atentos para a realidade do pecado e do uso do poder na sociedade para mantê-la aprisionada segundo o curso deste mundo que é segundo o príncipe da potestade do ar, a fim de que todos vivam, segundo as inclinações pecaminosa de sua própria natureza (Efésios 2.2-3). A segunda, nos mantém afastados da influência da primeira, conduzindo-nos à vida abundante compartilhada por Cristo, ao ensinar a santidade em nossas relações pessoais e a pureza nas decisões e ações que corretamente, sempre beneficiará o próximo.

Vivemos dias, em nosso país, em que há um clamor popular por justiça; mesmo que seja por meio de um discurso incompleto e carente de coerência. Como igreja, devemos concordar que a injustiça deve cessar. Mas, que comece em nós e se espalhe através de nós. Não podemos ser tolos, atribuindo toda injustiça a um partido político, ignorando a generalização dos problemas na estrutura política do país, que aprendeu em sua história a ser corrupta.

Entendo que para muitos, este partido representou a esperança de mudança com a tão sonhada pureza nos corredores do poder e que a decepção foi profunda na constatação de sua igualdade aos demais na impureza, produzindo esta caça às bruxas, tendo-o como representante, agora, de todo o mal existente na política. Mas, até nas horas de tensão somos chamados ao equilíbrio nas interpretações e ações. O sistema é corrupto porque a sociedade, a igreja, a família compartilha desta corrupção. Por isso, independentemente de que as mudanças aconteçam, temos de começar por nós a cura da maldade. Como disse o Senhor a Israel: “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante de meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas” (Isaías 1.16-17).

Reconheçamos nosso pecado e assumamos a vida em santidade, a começar pelo endireitamento de nossas relações pessoais e de nossos negócios. Se, servirmos de modelo e estímulo para a sociedade, todos serão beneficiados, mesmo que por um pouco. Se, não, pelo menos, adoraremos o Santo e seremos livres em nossa consciência, não compactuando com o mal e, ainda, cumpriremos com nossa tarefa de “proclamar as virtudes daquele que nos tirou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pedro 2.9).

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Está consumado!

O que estaria consumado na expressão de Jesus Cristo, imediatamente antes de sua morte? (João 19.30) O conjunto do que viera realizar? Efetivamente, o seu sacrifício? Mais extensivamente, o seu ministério? Ou, até mesmo, a aplicação de tudo naquilo que estava por vir?

Talvez, seja exatamente a última questão que o apóstolo Pedro se refira em sua afirmação aplicativa, quando diz: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1Pedro 2.24). Olha para a sua pessoa e obra, especialmente na cruz, e aplica diretamente, considerando seu efeito certo na vida daqueles a quem viera salvar.

Neste sentido, a expressão “está consumado” pode ser associada a cada pessoa alcançada pela obra de Cristo. Ele fora completo em toda a sua realização; isto é, tudo o que fizera, consumado na cruz, salva e não simplesmente cria a possibilidade de salvação. Tudo o que era necessário foi feito e, nesse sentido, tudo estava consumado. E, como extensão dessa consumação, seu efeito certo na vida dos indivíduos representados por ele na cruz; faltando, apenas, sua aplicação na época da vida de cada indivíduo.

Quando fui conduzido a Cristo (o caminho, a verdade e a vida) pela ação do Espírito Santo, usando as circunstâncias, no momento de minha conversão, se consumou o que ele fizera na cruz à minha realidade presente. Tudo incluído – pensado, planejado, executado, confirmado e, agora, aplicado. Tão certo que minha própria condução para conversão acontecera por estar incluído em sua obra na cruz. É exatamente o que Pedro afirma: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados”. A vida em justiça, a cura, tudo se tornara certo, e infinito, como consequência do seu carregar de nossos pecados no madeiro.

Consegue entender o que é graça?

Culpado. Pecador. Desonestamente criatura. Justamente merecedor de condenação. Sem nada a oferecer que valesse à pena. Distância do Criador por causa do orgulho. Impuro e profano na alma e no corpo. Condenado em certezas tão incertas para a vida e tão certas para a perdição. E, em meio a tudo isso, sou impactado pela mensagem do evangelho – poder de Deus para salvar a mim e a todo tipo de homem. Tão surpreendido que a única ação é a de cair em terra, falido, convertido e grato; convicto de minha nova realidade em Cristo e infinitamente pronto para adorá-lo com o meu viver, tudo o que sou, tenho e faço; pois, afinal, nada é meu, tudo é dele, por ele e para ele.

Está consumado!

De quem é o senhorio?

Biblicamente, tudo se resume na questão do senhorio. Este foi o problema de Satanás que repassou para o homem, por meio da tentação; e que parece se repetir em toda questão pecaminosa.

A vivência diária está em satisfazer a mim mesmo, por meio dos desejos de meu coração, agindo como senhor; ou, sabedor desta tendência, me submeter ao senhorio de Cristo. Qualquer expressão de idolatria externa – imagens, esculturas, coisas, animais, pessoas – tem, ao final, o objetivo de satisfazer o ídolo maior que existe em mim – eu mesmo.

Por isso, somos exortados a matar a influência desta pecaminosidade em nós que insiste em nos fazer acreditar que somos senhores de nosso viver (Romanos 8.9-13).

O pecado engana facilmente porque controla a vontade humana, e isso altera o julgamento. Quando a concupiscência prevalece, predispõe a mente para aprová-la. Quando o pecado influencia nossas preferências, ele parece agradável e bom. A mente é naturalmente predisposta a pensar que tudo o que é agradável é correto; portanto, quando um desejo pecaminoso vence a vontade, também lesa o entendimento. Quanto mais a pessoa anda no pecado, provavelmente, mais a sua mente será obscurecida e cegada. É assim que o pecado assume o controle das pessoas.

 A pessoa tem a falsa impressão de senhorio; mas, na realidade, está debaixo de outro senhorio (influência, referência). Paulo, simplifica este entendimento em sua carta aos efésios.

1. O Eu e suas consequências (a procura da autoestima)

(Efésios 4.17-19)

O problema: O andar pecaminoso.

O contexto: Referência e influência destrutivas (2.1-3).

O foco: O eu.

O combustível: O orgulho.

As consequências: A ignorância, a impaciência e o desamor.

O resultado: A dissensão.

Todo o contexto exposto no capítulo 2 (2-3), procura, cria, estabelece padrões e estruturas que enalteçam o eu, por uma questão de senhorio. Daí a procura da autoestima, como princípio norteador para o viver.

2. O Senhor e suas consequências (a procura da adoração)

Em contrapartida, temos o outro andar (Efésios 4.1-3)

 A exortação: O andar vocacionado.

O contexto: Referência e influência para a vida (2.1, 4-5, 8-10).

O foco: O Senhor.

O combustível: A humildade.

As consequências: A mansidão, a paciência e a compaixão.

O resultado: A unidade.

O que Paulo ensina é a troca do paradigma humano (egoísta) pelo paradigma divino, entendendo e vivendo toda a realidade a partir dos princípios do Senhor. Daí a necessidade de fundamentar o todo da vida por meio das Escrituras.