O que melhor identifica o crente?
Bisonho é o inexperiente, e por isso inábil para com muitos assuntos. Farsante é aquele que promove risos, passando a imagem de simpatia; mas, que na realidade é o que não procede com seriedade, sendo fingido, hipócrita. Qual das duas identificações melhor retrata o crente de nossos dias?
Voltamos à discussão política; e, portanto, aos absurdos. A política (corretamente compreendida) deveria ser alvo diário de nossos debates e decisões. Não a discussão sobre partidos; ou, pessoas em particular; mas sim sobre a dinâmica do viver comunitário. Afinal, a política diz respeito aos relacionamentos que mantemos, seja com o vizinho, ou com o comerciante, o médico; ou com a escola, a igreja, dentre outros.
A origem do termo, e da idéia, já indicava toda essa realidade: politéia, em grego, aponta para os procedimentos relativos à sociedade, como um todo. Originalmente concentrava atenção na organização para um viver mais produtivo e justo para todos. Posteriormente, devido ao fracasso do ideal diante da sede pelo poder, sua compreensão foi transformada para um conjunto de meios que possibilita a pessoa a alcançar os efeitos desejados. Daí sua degeneração se deu para o significado da arte de conquistar, manter e exercer o poder (noção de política encontrada em Maquiavel, na obra O Príncipe).
A compreensão de nosso povo sobre política se mantém corrompida para com a idéia original; mas, legítima, considerando seus próprios anseios. Assim, discutir política em terra tupiniquim significa falar de algo que não tem valor intrínseco; lidar com pessoas sem ideologia; enfim, discutir banalidades, chegando ao cúmulo de representar o humor ignorante – aquele que por não possuir talento para contar uma piada, apela.
Pois bem, têm-se a impressão (para não ser tão enfático) de que o crente é um dos melhores representantes popular desta ignorância política. Pensa, discute, “ensina”, e propaga a política improdutiva para a sociedade; mas, produtiva para quem suga na influência do poder. Vemos isto todos os dias, através de e-mail’s humorísticos; ou de conversas sarcásticas; ou de afirmações desprovidas de conteúdo significativo tanto no conhecimento quanto no objetivo.
Toda esta realidade política de crente me deixa confuso: será ele bisonho ou farsante? Será ele inexperiente no conhecimento e na prática do viver cristão ao ponto de revelar anseios irreais, ou de fazer afirmações inadequadas? Ou, pior, será ele fingido; tendo senso da realidade, mas, vivendo a irrealidade? Será o crente um representante da base motivadora da hipocrisia dos políticos brasileiros? Afinal, os políticos como representantes do povo, refletem aquilo que é o povo. Assim, o crente como hipócrita torna-se a matriz motivadora da representação política dos vereadores, dos deputados, dos senadores, dos prefeitos, dos governadores e da presidência da República.
Crente que reclama, ou que graceja da corrupção dos políticos; mas que é corrupto na sonegação de seus impostos; ou na propina concedida; ou mesmo na infidelidade para com o Senhor nos dízimos e ofertas. Crente que acha absurdo o uso de dinheiro público para gastos pessoais; mas administra seu dinheiro desconsiderando a tarefa de ser mordomo daquilo que possui pela graça divina. Crente que se revolta com a falta de investimento em coisas essenciais para a sociedade; mas não investe em missões, e nem em outros projetos essenciais para a salvação de pessoas e a edificação dos que já foram alcançados pelo evangelho. Crente que critica a troca de partidos; mas que muda de igreja, seguindo o mesmo princípio daquilo que critica. Crente que torce o nariz para o político que é descoberto em negócios ilegais; mas adquire produtos piratas com a maior naturalidade, como se acreditasse que até o Senhor o faria se estivesse em seu lugar. Enfim, crente que rouba, que engana, que mente, que trai, que falsifica, que ignora o próximo, que essencialmente busca satisfazer seus desejos. Qual a diferença deste para com os políticos criticados?
Este crente envergonha o Senhor e seu evangelho. Como crente, deveria ser portador de uma palavra profética quanto ao juízo de Deus para com toda a injustiça e mentira. Deveria servir de exemplo, de modelo de um proceder ético imaculado. Deveria, como afirma Cristo, ser sal e luz no mundo; realçando a diferença daquele que está em Cristo Jesus, por viver em conformidade com o seu Reino. Deveria ser santo, como alguém separado para um viver irrepreensível. Mas, infelizmente, insiste em ser bisonho ou farsante; insiste em pecar. Que tipo de crente você é: Bisonho, farsante ou santo?