Mês: abril 2011

O que ficará?

“Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos” (1 Coríntios 13.9).

Não estamos no mesmo contexto de Paulo quando escreveu aos coríntios, ordenando a teologia de uma igreja ativa; porém, ambiciosamente orgulhosa. Mas, ainda assim há semelhança suficiente para aplicarmos esta frase em nossa vida.

Líder destacado; agora instruído. Bacharel. Mestre. PhD. Em meio a tanta formação e informação, cerimônias, debates, aulas, pregações, e afins; o que realmente diferencia o comum do incomum?

Entre alguém que pensa muito saber e alguém que sabe pouco conhecer, qual a diferença, já que para ambos, conscientemente ou não, há limite certo no conhecimento e na aplicação deste? Por melhor observador, e por mais agregador que sejamos, em parte conhecemos e em parte ensinamos, pregamos, discipulamos.

“O amor nunca falha” (1 Coríntios 13.8a).

A diferença está no amor. Amor de Deus compartilhado com o homem, que quando enraizado, o torna humilde e agregador. Através deste enxergamos que nossa participação nas “conquistas” está mais em sermos conquistados do que em conquistarmos o conhecimento; sendo esta uma boa aplicação de que o “temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. Somos tomados, conquistados pelo Senhor, para então entendermos a sabedoria; que é sempre visível através dos relacionamentos: “A sabedoria que vem do alto é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia” (Tiago 3.17).

Após tanto esforço, ou mesmo completa ausência de esforço, o que ficou? Tantas conversas e debates, o que ficou de bom conselho? Tantas pessoas, tantas risadas, o que ficou de verdadeira e doce amizade? Tantas mensagens ouvidas, ou pregadas, o que ficou de vida? Tantas horas de estudo e de pesquisa, o que ficou de aplicação? Tanto investimento, o que ficou de bom para a família? A família ficou?

“Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor” (João 15.10a).

O amor fica! O amor é o resultado dos mandamentos do Senhor. Por isso Paulo escreveu que o amor nunca falha. Qualquer coisa passa, mas o amor fica.

Depois que você, assim como eu, passar, o que ficará? De tudo o que conquistou ou foi conquistado, de tudo o que fez ou deixou de fazer, o que ficará que valerá a pena? Oxalá seja o amor!

Você tem um amigo?

Você tem um amigo? Mesmo que não tenhamos, somos impulsionados a responder positivamente a esta pergunta; pois, em caso contrário nos sentimos pressionados, questionados: “Por que não possui amigos? Será tão ‘ruim’ assim para ser evitado?”.

 Como você sabe que possui um amigo? O que lhe dá esta certeza; se, a possui? Já passou por situações em que esta amizade fora comprovada?

Para lhe assegurar convicção responda: Quais as características naturais de um amigo? Fidelidade; lealdade; parceria; prontidão; empatia; dentre outras, fazem parte da lista da maioria de “amigos”.

 Enfim, o que é um amigo? Eis uma tentativa de resposta: Amigo é aquele que me ajuda a ser melhor pessoa, cônjuge, pai, mãe, filho irmão, estudante, profissional; enfim, ser alguém melhor. E isto tanto intencionalmente como por resultado de nosso relacionamento.

Então, você tem um amigo? Provavelmente, sim. Mas, por melhor que seja esse está longe de atingir a amizade perfeita que Cristo compartilha com os que são seus amigos.

No Salmo 41.9, Davi expressa aquilo que ninguém deseja de um amigo, mas que é comum acontecer: “Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar”. Este tipo de ocorrência acontece com todo e qualquer amigo pelas seguintes razões: (1) Por ser limitado e falho como todos os seres humanos. (2) Por nem sempre concordar com o nosso modo de pensar. (3) Por pensar somente em si em alguns momentos, mesmo que inconscientemente. (4) E, a principal razão é que ele não pode dar aquilo que não possui.

Nenhuma pessoa possui as características desejadas de um amigo plenamente; nem de forma contínua. Todo e qualquer amigo falha, trazendo frustração. Ter expectativa de perfeição por parte de um amigo é pensar e agir alienadamente; pois é armar a própria cama para o choro.

Já em Cristo temos a perfeição da amizade, pois (1) Ele não é limitado, por ser Deus. (2) Ele não é egoísta, nem invejoso; ao contrário, todo o seu pensar e agir nos tem como alvo final: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (João 15.13). (3) E ele oferece aquilo que possui e de que precisamos – salvação, companheirismo e direcionamento eterno.

Qual a prova disto? Isto é algo que incomoda as pessoas. Como sabemos que isto é real? Como sabemos que ele não somente existe como é o melhor amigo a se ter? Para isso temos uma resposta subjetiva e outra objetiva. Empírica e metafísica:

A subjetiva e metafísica está naquilo que sentimos quando assumimos um relacionamento com Cristo. Não dá para explicar; mas, sim, somente sentir. Dá para afirmar que é real, pois sentimos sua presença; sentimos paz; sentimos convicção de salvação: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito eu somos filhos de Deus” (Romanos 8.16).

A resposta objetiva e empírica está na transformação em milhões de homens, mulheres, jovens e crianças, no decorrer da história; ao assumirem este relacionamento e este viver em Cristo e por Cristo.

Isto é algo observável. Possível de ser detectado, medido, confirmado. Tornando-se prova palpável de uma influência e transformação permanente da pessoa. E, contra esta prova em milhões não há negação.

Milhões afirmam em todo o mundo, por mais de dois mil anos que Cristo é o amigo perfeito, aquele que não somente nos aperfeiçoa como também preenche o nosso viver.

Você tem a prova empírica (objetiva) da transformação de vida de milhões. Uma prova mais do que suficiente em termos quantitativos e qualitativos. Pessoas que se tornaram melhores, e que não querem voltar atrás, sendo capazes de dar a sua própria vida por aquele que lhe concedeu salvação e amizade.

E você tem a afirmação destes milhões que quando assumimos este relacionamento com Cristo, tudo muda, a começar por nossos sentimentos e sensações (daí a prova subjetiva): Passamos a sentir sua presença e a ter convicção de salvação; o que nos conforta, dando uma sensação de paz e de bem estar permanente.

Que outra pessoa ou ser pode lhe oferecer isso?

Sabe o que é necessário para iniciar esta amizade com Cristo, e pertencer ao grupo de milhões transformados? “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9). Reconhecer a existência de Cristo. Seu sacrifício em seu favor, perdoando os pecados. E o desejo de viver em comunhão com ele. Em viver a vida que ele lhe oferece.

Você quer Cristo como amigo?

A morte é o ponto de partida

O que seria a vida sem o seu final? O que aconteceria se, de repente, os homens parassem de morrer? O que significa não morrer?

(Em seu livro Intermitências da morte, Companhia das Letras, José Saramago, autor português, questiona estruturas da religião e da filosofia a partir do significado que ambas atribuem ao fim da vida; e, afirma que a morte é o ponto de partida.)

 No dia seguinte ninguém morreu. De repente não se morre mais. Aquilo que a princípio seria motivo de grande felicidade provocaria as maiores tribulações e desarranjos; a ponto de muitos desejarem o retorno da morte ao ciclo da vida; pois com a ausência da morte a vida se torna funesta. Com o fim da morte toda a vida precisa ser repensada; pois, a visão de mundo, além de aspectos socioeconômicos, está baseada na morte: hospitais, seguradoras, funerárias, aposentadoria, renovação, etc.

No aspecto religioso, quais seriam as propostas (novas propostas) das religiões, das filosofias? Como encarar a vida, o erro, a justiça, a eternidade, sem a morte? Quantos apelos ao juízo divino ou místico sobreviveriam à nova realidade de se viver eternamente aqui, sem uma continuação após a morte com purgatórios, céus, infernos, lagos de fogo, paraísos, belas e muitas virgens, reencarnações? Será que encontraríamos uma resposta, um caminho já existente que privilegiasse a vida ao invés da morte? Que estabelecesse toda sua estrutura moral, espiritual e social sobre uma proposta de se viver, independentemente da morte, e de se viver abundantemente?

Na conclusão de Saramago, tanto a religião quanto a filosofia perderiam sua razão de existir, pois, acredita que ambas existem para que as pessoas levem toda a vida com o medo pendurado ao pescoço e, chegada a sua hora, acolham a morte como uma libertação.

No entanto, na conclusão de Cristo a morte não atrapalha a vida, pois ele veio trazer vida abundante (João 10.10). Sua proposta diz respeito à vida, e não somente a que está por vir, mas a começar por esta que experimentamos. A morte em si não é o ápice de sua mensagem, nem no que diz respeito a ele nem no que diz respeito a toda humanidade; pois, a vitória sobre a morte é o tema bombástico de seu ministério, e no que diz respeito a nós a vida é a razão de seu sacrifício.

A morte já não mais atrapalha, pois foi vencida. Gosto da forma como John Owen enxergou este dilema: A morte da morte na morte de Cristo. A morte morreu na morte daquele que é vida. Tanta vida que nem a morte conseguiu detê-lo. A morte, ao contrário, é fundamental para a vida. Não no sentido abstrato e absoluto da vida pós-morte, mas sim no sentido desta fase em que vivemos, pois para se ter vida abundante é preciso fazer morrer a natureza morta que nos acompanha desde o berço. Cristo disse a Nicodemos: “Importa nascer novamente”. Claro! Afinal, se seguirmos o destino sinistro da humanidade caminhamos da vida para a morte (no sentido físico); mas, se seguirmos o destino divino para a humanidade caminhamos da morte (do eu) para a vida (de Deus). Morte para o que é comum e vida como um presente de Deus para um novo, curioso e desafiante presente e futuro: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados […] nos deu vida juntamente com Cristo, pela graça sois salvos” (Efésios 2.1, 5).

A morte, então, é o ponto de partida de uma verdadeira e abundante vida que não necessita da imortalidade para ser real. Quando nascemos fisicamente começamos a morrer. Mas quando morremos espiritualmente renascemos para um viver pleno antes e após a morte física.

Tome a decisão de perdoar

“Posso perdoar, mas não consigo esquecer é apenas outra maneira de dizer ‘não perdoarei’. O perdão deve ser como uma nota promissória cancelada, rasgada e queimada, de modo que jamais seja apresentada novamente”. Palavras de Henry Beecher, pregador norte-americano.

Os pensamentos de Beecher, mais tarde, foram modificados por outros para expressar o seguinte: “Se você realmente não esqueceu é porque não perdoou de verdade”.

Não creio que isto reflita a verdade bíblica. Não creio que verdadeiramente nos esquecemos de todas as ofensas que sofremos na vida. Creio que nos lembramos delas. Como é que apagamos da memória um divórcio? Ou um filho no mundo das drogas? Ou um motorista bêbado que atropelou nosso cônjuge? Ou a experiência de ter estado numa prisão? Ou a guerra que trouxe tanta miséria? Ou o dinheiro perdido num investimento por causa do mau conselho alheio? Ou mesmo a humilhação sofrida diante de tantas pessoas no trabalho, na igreja, ou na vizinhança?

Muitos afirmam que Deus se esquece. “Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Jeremias 31.34b) Como pode um Deus eterno esquecer? O conceito que Ele deseja transmitir não é que o acontecimento ou o próprio pecado seja esquecido, mas que o juízo da ofensa foi removido. Em outras palavras: “Não mais sustentarei em juízo o pecado contra eles” (Isaías 53. 4s, 8).

A verdade é que nos lembramos de tudo. Mas, podemos escolher reagir às nossas recordações. Podemos deixar que elas se aquietem, e prossigamos na vida; ou que elas nos dominem.

A expressão comum ouvida é: “Não posso perdoar”. Não pode, ou não quer? “Simplesmente não sinto vontade de fazê-lo”. Já imaginaram quanto trabalho seria realizado se todos esperassem até sentir vontade de trabalhar? Você realmente já sentiu vontade, desejo, de lavar os pratos, de limpar a garagem? Quando foi a última vez que você sentiu vontade de lavar roupas bem sujas?

O perdão não é, antes de tudo, um sentimento. É uma escolha que vai além dos sentimentos. É um ato da vontade. Alguns dizem: “Se eu perdoar alguém quando não sentir o perdão, serei um hipócrita”. Se você perdoar ainda que não o sinta, você é alguém responsável, não um hipócrita.

O perdão é uma promessa, um compromisso: Não usarei contra ele no futuro. Não falarei com outros sobre esse problema. Não insistirei nisso.

O perdão devido a um irmão não depende da bondade desse irmão; mas, antes, repousa na misericórdia e benignidade daquele que oferece o perdão. Nenhum cristão tem o direito de negar o perdão ao seu irmão: “Senhor, até quantas vezes tenho de perdoar a meu irmão? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18.21-22).

Ira atrevida

Intrometida, chega sem avisar

Transformando o dia em pesar

Cheia de si, acusa sempre o vizinho

Como o sujeito do descaminho

Déspota dos sentimentos

Maltrata quem lhe acolhe

Tornando a vida um lamento

Para quem dela colhe

Inimiga da mansidão

A ira apodrece o coração

Dispensá-la é ato de inteligência

De quem investe no bem viver

Pois acúmulo de maldade

Não levamos à eternidade

Wagner Amaral

Não deixe de ter fome, não deixe de sonhar

Sem perceber cada ser humano é empurrado a uma vida de rotina cultural, social, profissional, moral e espiritual. Nascemos em meio a uma rotina já existente; crescemos engolindo uma formação goela abaixo, prevalecendo a visão (rotina) dos responsáveis por nossa rotina; e, paulatinamente, nos adaptamos ao ritmo daqueles que já estão na estrada rotineira da vida. Inclua nesta estrada a rotina de ciclicamente mudar alguns costumes, retornando ao anterior, tempos depois, e voltando, retornando, …

Antigamente, principalmente em algumas culturas, filho de peixe peixinho se tornava, isto é, o filho seguia a rotina do pai. Se, o pai era professor, o filho professor seria; e isto porque seu avô também já o fora. Hoje em dia, a rotina é o filho seguir por outro caminho a fim de ser mais bem sucedido que seu pai, que já fora melhor que seu avô. Rotinas que permanecem e rotinas que vem e que vão por pertencerem à rotina da mudança.

Existem muitas coisas estranhas, que simplesmente aceitamos (vivemos) sem darmos conta de sua origem, valia, ou funcionalidade. Dentre estas coisas estão as rotina moral e espiritual. Moralmente direciona-se a se viver como a maioria, aceitando o que ela aceita, e repetindo seu jeito de ser, mesmo que suas decisões sejam eticamente questionáveis. Em alguns países, como no Brasil, a ética lógica é a indesejada, a chata, a do contra; já a aceitável e querida é a moral do jeitinho que acerta as diferenças, mesmo que estas sejam absurdamente incoerentes. No discurso prevalece a ética, já na prática a estética com a cara e o gosto do grupo em que se vive. Escuta-se o correto com ouvidos surdos e pratica-se o jeitinho com olhos cegos e mãos bobas.

Espiritualmente aprende-se a ser religioso. Em muitos casos, religião é negócio de família. No caso do cristianismo é só escolher entre o ser católico, evangélico ou praticante de alguma seita, e entrar na rotina. Seguir os mandamentos divinos normalmente experimentados através das regras humanas, criando os costumes de cada igreja.

Você que lê este texto, provavelmente seja “evangélico”; talvez “batista”, ou “presbiteriano”, ou “assembleiano”, ou portador de outro nome denominacional. Dependendo de sua rotina, teve formação tradicional, valorizando certos pontos e tendo alergia religiosa a outros. Caso contrário, a formação “liberal” é a que prevalece seguindo a mesma rotina de valorizar certos pontos em detrimento de outros.

Em meio a tudo isto está a pior das rotinas: valorizar a morte. Isto se faz quando se prioriza a religião e se ignora a espiritualidade; quando se troca Deus pela igreja; quando se troca a santidade pelo legalismo; a Revelação pela denominação; quando ao invés de cultuar ao Senhor, em espírito e em verdade, o “crente” segue a rotina da solenidade politicamente correta. A rotina de ser crente cega, tirando a visão espiritual, assim como tira a fome da presença de Deus, levando ao contentamento através dos móveis, do prédio, da administração, do viver comunitário, enfim, imagens, ídolos evangélicos. Esta rotina maldita acaba com a esperança, com o sonho de justiça, de paz, de amor imerecido. É esta rotina religiosa que apaga a chama por missões, tornando o coração frio, insensível ao chamado a fazer discípulos como demonstração de nossa gratidão pelo amor do Mestre, e ao entendimento de que o Senhor quer adoradores “em espírito e em verdade”, e não religiosos.

Não deixe de ter fome de Deus, não deixe de sonhar por uma vida espiritualmente melhor, não seja escravo da rotina, mas sim do Deus sempre maravilhoso e surpreendente.

 

Reviver a infância

(Quero rever um texto com vocês)

A percepção e o entendimento dependem da interpretação particular sobre aquilo que se apresenta ou é apresentado. Por isso a hermenêutica e a exegese são de valores incalculáveis, redundando em lógica coerente ou não. Tudo depende de quem vê, se vê, e como vê.

Temos um maravilhoso, e bíblico, exemplo quanto ao viver. Todos querem chegar à maioridade, isto é, ser adulto na compreensão e no agir; entendendo ser esta a fase e a forma mais bem sucedida do viver. Os adultos pensam e agem como se as crianças nada soubessem. Por isso as crianças aprendem e os adultos ensinam. No pensamento comum, infância é o ponto de partida; enquanto a condição adulta é o destino, o ponto de chegada.

A exortação bíblica caminha na mesma direção, exortando-nos a agir com maturidade, não sendo mais infantil quanto à instabilidade e indisciplina: “não sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina” (Efésios 4.14). Em textos assim o Senhor adverte a agir equilibradamente quanto àquilo que alcançamos, de maneira que não venhamos a regredir.

No entanto, o Senhor, através de Sua Palavra, traz um contraponto: se por um lado devemos progredir em maturidade, agindo como adultos conquistadores; por outro lado, devemos cuidar para manter a vida em sua perspectiva infantil: “Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus” (Mateus 19.14). “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus 18.3). A verdadeira vida, aquela que indica o caminho e o estilo do reino, é mais bem retratada pelo estilo infantil: sem dificuldades para se humilhar, para se arrepender, para assumir dependência; companheirismo; autenticidade; facilidade em perdoar; coragem para arriscar; alegria, revelada pelo prazer em viver. São características imprescindíveis para se viver bem, sem a doente malícia, e a escravidão do “agradar” ao outro, a fim de conquistar o que se deseja.

A poetisa mineira Adélia Prado suplicou: “Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a mão, me cura de ser grande…”. Sua doença era a de ser grande, de ser adulta. E este tipo de doença se cura tomando chá de infância, virando criança de novo: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João 3.3). Interessante a afirmação de Jesus a Nicodemos, principalmente após sua advertência: “Tu és mestre em Israel e não compreendes estas cousas?” (João 3.10). Tu és adulto, mestre, e não entendes? Precisa ser como criança, nascer novamente, crescer e viver como criança para então receber e gozar a vida eterna.

Quando os adultos com sua formação e interpretação particular ensinam nos tornamos cientistas, doutores no saber, na arte de dominar o mundo. Quando as crianças ensinam nos tornamos sábios na arte do viver. Elas ensinam a nos libertarmos de nós mesmos, dependendo única e exclusivamente do Senhor (Mateus 18.1-5).

Com o crescer aumenta-se o conhecimento, e com este a consciência, multiplicando a responsabilidade. Esta é a conquista adulta a ser preservada. Porém, com o crescer aumenta-se também o pecado, e com este a malícia, a soberba, o medo, e o orgulho. Esta é a parte a ser convertida. E esta conversão se dá em viver como criança. Volte-se ao Senhor e ele o converterá em criança.