Mês: junho 2015

deus?

 

deus?

(retomando textos)

Há dois sentidos bíblicos para o termo “eternidade”. (1) O sentido específico que identifica o Senhor – “Plantou Abraão tamargueiras em Berseba e invocou ali o nome do Senhor, Deus Eterno” (Gênesis 21.33; Isaías 26.4). (2) O sentido limitado da vida para sempre – “Mas eu me lembrarei da aliança que fiz contigo nos dias da tua mocidade e estabelecerei contigo uma aliança eterna” (Ezequiel 16.60; Mateus 19.16, 29; 25.41). A limitação de “eternidade” aqui está no fato de que aquilo de que se fala possui um início; logo, não é essencialmente eterno. A melhor compreensão seria a de infinitude. Há um começo; portanto, há uma limitação quanto à origem; mas, não haverá um fim. Este é o entendimento adequado para o que identificamos biblicamente como “vida eterna”. Pensamos na sequência infinita; porém, houve um início. Ou, ainda mais, houve um tempo em que esta vida eterna não se aplicava à nossa realidade; mas, somente à mente do Senhor, que é Eterno.

Em seu sentido completo, eternidade é uma realidade única e exclusivamente divina. “Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra” (Provérbios 8.23; Miquéias 5.2; Habacuque 1.12; Isaías 57.15). A sabedoria é personificada, ligando-a como essência a pessoa de Deus. É eterna, não há origem, sempre existiu; no entanto, quando dirigida à nossa realidade criada, há referência a um começo: “desde o princípio, antes do começo da terra”. A limitação não está em sua existência, mas sim na existência da criação. É como se afirmasse: Antes de vocês existirem eu já existia; pois eu sempre existi.

Ao contrário desta realidade exclusivamente divina, nós, para sempre, viveremos a realidade da criação. “Nós, porém, segundo a promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (Isaías 57.15; Apocalipse 21.1-7; Romanos 8.18-23; 2 Pedro 3.13). Por isso, por toda a “eternidade” (infinitamente) o Cristo encarnado e transformado continuará a exercer a função de ser a expressão de Deus aos homens. Para sempre a realidade que existe continuará a existir, porém, em seu estado final: (1) A Trindade em sua eternidade. O que é exclusivo por sua essência, continuará exclusivo, devido a nossa limitação. (2) Os salvos redimidos, na criação redimida, gozando da presença do Senhor através de Cristo, expressão revelada (portanto, limitada) da Trindade eterna. (3) Os perdidos em juízo.

Nada impedirá esta realidade criada e determinada. “Lembrai-vos que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade” (Isaías 14.24-27; Deuteronômio 32.39; Isaías 43.10-13; 46.8-11; Jeremias 31.3). E isto inclui tudo, pela própria realidade da criatura e da forma de criação que Deus estipulou (imagem e semelhança).

Criaturas que tem o objetivo de se relacionar, não sendo eternas, naturalmente em algum instante tomariam decisão equivocada. A determinação de Deus não está em seu pecar; pois, isso já seria o resultado comum à criatura pela essência de sua limitação. A determinação de Deus está em criar para se relacionar; isto é, onde está a limitação imposta ao homem? Exatamente na determinação de Deus em possibilitar ao homem o fazer escolhas conscientes. Isto é, por demais, interessante devido à contradição observada; pois, naquilo que o homem mais se agarra para defender sua liberdade de ser grande e independente (consciência) é exatamente o ponto de sua fragilidade e dependência.

Portanto, o problema não está em Deus; a solução seria ser como Ele. Porém, outro Deus não poderia vir a existir; somente criaturas limitadas. Exemplo para reflexão: Deus poderia criar alguém perfeito como ele? Não; caso contrário não seria criado, mas eterno (e isto não o diminui; ao contrário, enaltece sua grandeza e singularidade). Fez o melhor, num ambiente adequado, com mínimas possibilidades de sua criatura escolher o pior; mas, escolheu. Porém, Deus foi misericordioso, providenciando tentação externa e possibilitando salvação a criatura (diferentemente dos anjos, imortais).

O resultado: Todos nascem contaminados pelo pecado, com tendência ao erro; e, assim, condenados (João 3.36). Mas, por que todos não são salvos? A única resposta que temos nos indica o meio, sem, porém, explicar-nos as razões. “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (Atos 13.48; Marcos 4.10-12; Mateus 11.20-24). Isso não é injustiça? Aos olhos temporais e limitados, talvez sim; mas aos olhos eternos, não. “Eu anunciei salvação, realizei-a e a fiz ouvir; ainda que houvesse dia eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?” (Isaías 40.12-18; 43.10-13; Romanos 9.14-24).

Assim, toda a história, incluindo a salvação, pertence ao plano eterno de Deus (Romanos 8.28-39). Portanto, não há espaço nas Escrituras para um deus que não conhece o amanhã.

Vagabundo

 

Viver neste mundo

Sem nutrir pertença

Impõe tremebundo

Peso, desavença

Respirar fecundo

De cruel descrença

No perfil oriundo

Da maledicência

Cria dó profundo

Do ser moribundo

Que sem Cristo pensa

Em ter recompensa

Ao ser vagabundo

No triste submundo

Tempo de adoecer

 

(retomando textos)

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu […]  Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo” (Eclesiastes 3.1, 11).

 É admirável o conhecimento que se nutre do Senhor, o que torna ainda mais espantosa a inércia deste conhecimento no viver. Decididamente saber não é viver. Não há um santo, crente ou profano, que não concorde quanto à necessidade de diminuir o ritmo de suas atividades, da correria de seus dias. Agitação estafante, estranguladora do prazer e principal acusada da inversão das prioridades pelas urgências. “Estresse, estresse” é o termo modal na boca dos entendidos médicos e na do ignorante povo. Toda e qualquer imagem interiorana ou praiana desperta suspiros e sonhos distantes, empurrados para a sempre ausente e atrasada férias.

Deus já revelara tão objetivamente quanto ao tempo, que parece gerar descrença em seus ouvintes (a descrença será na mensagem ou no mensageiro? Talvez nos dois). Há tempo para tudo e isso inclui tempo para descansar; tempo para curtir a família, os irmãos, a natureza; tempo para refletir; tempo para um check-up na saúde; tempo para desligar o celular, para se desplugar; tempo para dizer “não”, mesmo quando tudo indica que você é o único possível e disponível para a tarefa.

Vez por outra o agir Soberano “prega uma peça” naqueles que não têm tempo de parar: enfermidade, atraso ou cancelamento de voo, são situações que mostram que o mundo não trava quando você para. Ao contrário, confirma que as pessoas vivem exatamente da mesma forma, quando não melhor, em meio à sua ineficácia; que aquela tarefa que somente você faria é realizada por outro ou substituída por outra superior. E, assim, as desculpas que servem como combustível para agitação e falta de tempo são humilhantemente derrubadas.

A real probabilidade é a de que o orgulho seja o grande vilão, pois o receio não é o desandar da rotina, mas sim a possibilidade de ser ignorado, substituído, encostado. A batalha do ego concentra-se na conquista do reconhecimento, nem que para isto se tenha uma vida de má qualidade, desprovida de prazer.

Vale a pena? Prefiro o descanso no Senhor ao orgulho ativista; assim como o bife no suave e pacífico lar ao caviar na estupenda e irada família. Afinal, a vida é mais atraente e prazerosa quando não seguimos na utopia de um senhorio próprio, mas reconhecemos o senhorio de Deus.

Deus ou deus?

 

Temos um rei justo e implacável na administração de sua lei; porém, de escasso sorriso e de inimaginável abraço despretensioso em algum humilde que não o tenha merecido por uma tarefa frutífera e impecável ao Soberano.

 Temos um rei incrível! Forte, poderoso, vencedor de todas as possíveis e impossíveis batalhas, em quem podemos descansar na certeza de não existir poder superior para nos abater. Um rei santo! Tão santo; tão separado e irrepreensível que parece infinitamente distante de nossa insignificante realidade cotidiana. Ele é lindo! Perfeito! Porém, incomunicável em misericórdia e bondade.

Este parece o retrato de Deus para alguns. Um Deus sério, até mesmo sisudo, atento com um porrete em mãos para atingir a qualquer um dos seus que não siga suas recomendações, registradas em seu manual – a Bíblia.

O problema não está nos atributos identificados nas Escrituras acerca de Deus – Justo, Forte, Poderoso, Majestoso, Santo, dentre outros; mas, sim, na interpretação de alguns que redefine tais atributos à luz de questionável conhecimento e limitada formação. Para estes, Deus torna-se sério e correto; porém, feio e sisudo, possuindo séria dificuldade em demonstrar amor, além de absurda falta de realidade e de bom senso.

Jesus Cristo foi identificado como a revelação perfeita de Deus aos homens (Hebreus 1); e quando o consideramos nos evangelhos, reconhecemos um Deus repleto de compaixão, perdoador, com insistente visão de futuro para aqueles que eram limitados. Chamou seus discípulos e suportou suas idiotices porque sabia ser algo passageiro que desapareceria com a maturidade por vir – de discípulos a apóstolos. Olhou para a pecadora abordada em adultério e a perdoou por enxergar futuro para ela, além de reconhecer pecado em todos os seus acusadores.

E seus seguidores (a tempo e fora de tempo) deram sequência à sua conduta. Paulo afirmou que Deus nos salvou estando nós mortos em nossos delitos e pecados, quando andávamos aprisionados em meio a nossa rebeldia ao Senhor (Efésios 2.1-3). Os olhos do Senhor consideravam nossa realidade pecaminosa, mas valorizavam o futuro em meio à salvação e formação, através de Seu Espírito em nós.

Por que alguns insistem em proclamar um deus feio e sisudo que não perdoa as falhas e limitações e, ainda, tem séria dificuldade em reconhecer a realidade das pessoas? Por que alguns insistem em estabelecer uma estrutura religiosa baseada em uma visão de um deus indesejável, brigão e orgulhoso?

Talvez, porque o Deus revelado nas Escrituras ainda não tenha se tornado seu Deus. Talvez, porque insistam em manter-se surdo e cego para Sua revelação, impondo suas próprias vontades e definições acerca da vida desejada por Ele, revelando a pecaminosa disposição em ocupar Seu lugar ao definir o que deve ser considerado e como deve ser considerado. Talvez, porque o inimigo, ainda, os tenha mantido numa redoma de religiosidade, inculcando a falsa impressão de adoração, mas, na realidade, os mantendo distante da espiritualidade expressada nas Escrituras que estimula ao amor e a humildade.

Deus é Santo, Justo, Soberano, distante de qualquer pacto com o pecado; mas, isto não o torna feio, carrancudo, brigão, separado das pessoas. Deus é amoroso, repleto de compaixão, de misericórdia e de bondade. É um Deus repleto de alegria e que se compraz em criar oportunidades para a mudança esperada. É Deus de segundas oportunidades e que, em hipótese alguma, parece se alegrar com a derrota dos seus, movida pelo pecado.

Adoremos ao Senhor revelado nas Escrituras e, consequentemente, amaremos. Mas, se adorarmos ao deus criado pelos homens em sua religiosidade, aprenderemos a ser distantes e horrorosos. Adoremos ao Senhor!