Tempo de adoecer

 

(retomando textos)

“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu […]  Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo” (Eclesiastes 3.1, 11).

 É admirável o conhecimento que se nutre do Senhor, o que torna ainda mais espantosa a inércia deste conhecimento no viver. Decididamente saber não é viver. Não há um santo, crente ou profano, que não concorde quanto à necessidade de diminuir o ritmo de suas atividades, da correria de seus dias. Agitação estafante, estranguladora do prazer e principal acusada da inversão das prioridades pelas urgências. “Estresse, estresse” é o termo modal na boca dos entendidos médicos e na do ignorante povo. Toda e qualquer imagem interiorana ou praiana desperta suspiros e sonhos distantes, empurrados para a sempre ausente e atrasada férias.

Deus já revelara tão objetivamente quanto ao tempo, que parece gerar descrença em seus ouvintes (a descrença será na mensagem ou no mensageiro? Talvez nos dois). Há tempo para tudo e isso inclui tempo para descansar; tempo para curtir a família, os irmãos, a natureza; tempo para refletir; tempo para um check-up na saúde; tempo para desligar o celular, para se desplugar; tempo para dizer “não”, mesmo quando tudo indica que você é o único possível e disponível para a tarefa.

Vez por outra o agir Soberano “prega uma peça” naqueles que não têm tempo de parar: enfermidade, atraso ou cancelamento de voo, são situações que mostram que o mundo não trava quando você para. Ao contrário, confirma que as pessoas vivem exatamente da mesma forma, quando não melhor, em meio à sua ineficácia; que aquela tarefa que somente você faria é realizada por outro ou substituída por outra superior. E, assim, as desculpas que servem como combustível para agitação e falta de tempo são humilhantemente derrubadas.

A real probabilidade é a de que o orgulho seja o grande vilão, pois o receio não é o desandar da rotina, mas sim a possibilidade de ser ignorado, substituído, encostado. A batalha do ego concentra-se na conquista do reconhecimento, nem que para isto se tenha uma vida de má qualidade, desprovida de prazer.

Vale a pena? Prefiro o descanso no Senhor ao orgulho ativista; assim como o bife no suave e pacífico lar ao caviar na estupenda e irada família. Afinal, a vida é mais atraente e prazerosa quando não seguimos na utopia de um senhorio próprio, mas reconhecemos o senhorio de Deus.

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