Mês: março 2012

A Ilusão

Vivemos em uma época de incríveis ferramentas; e, consequentemente, de impensáveis possibilidades. Quando no seminário, estudando Teologia, minha ferramenta principal era uma máquina de datilografar, pequena. Pouquíssimos recursos; porém, o suficiente para desenvolver minhas tarefas, completando-as com régua e canetas. Impensável para os dias atuais. Meus filhos não tem a mínima ideia do que estou falando, rsrsrs.

Hoje, alguns anos depois, o progresso da informática, e sua acessibilidade, transformaram as possibilidades no mundo. Informações mediatas e imediatas; comunicação e interação que para ser total precisaria somente do teletransporte do corpo para providenciar o aperto de mãos, o abraço, o beijo; enfim, a presença no mesmo ambiente físico. Realmente é um progresso impressionante para tão pouco tempo.

Uma destas ferramentas é o Facebook. Uma rede social que permite a interação de milhões de pessoas. Alguém pode fazer um pequeno vídeo em sua câmera do celular; e, então, fazer o download para o Facebook; e, em pouquíssimo tempo cerca de oito milhões de pessoas o acessam, interagindo com comentários, críticas, ilustrações, reproduções, etc. Quando você menos espera o conteúdo daquele vídeo está diante de você na farmácia, no mercado, na rua; através das pessoas que viram e que estão comentando, cantando, reproduzindo de diversas formas. Realmente incrível!

Estas ferramentas podem e devem ser usadas por aqueles que são do Senhor para cumprir com sua vocação de fazer a diferença, sendo referencial de Cristo. Textos bíblicos compartilhados; devocionais; comentários edificantes; músicas de ensino e louvor; vídeos; ilustrações; formas e mais formas de se alcançar milhões com o evangelho. A criatividade em meio às possibilidades que a ferramenta permite pode aumentar a curiosidade, produzindo maior impacto; e o alcance disto é inimaginável. Coisa boa para quem quer espalhar a luz do evangelho.

Mas, há algo de podre no ar. Um cheiro, uma impressão, que surge como consequência do mau uso das ferramentas. É o amor expressado nas palavras, mas pouco evidenciado nos abraços, na presença na casa do outro, na ajuda diante da necessidade, na oração pela pessoa e junto com a pessoa. É a amizade “cantada” a todos os cantos, mas sem a cor da autenticidade revelada na prática do perdão, na eliminação da fofoca, na ausência de projetos em comum. É o louvor a Deus assumido como real; mas, demonstrando sua irrealidade por meio da constante ira, da insistência em não abandonar o pecado, da apatia como membro da igreja, do apego ao dinheiro e coisas materiais, da paixão pelo time de futebol (ou qualquer outro esporte) mais forte e constante do que pelo Senhor. Enfim, é a postagem da máscara de algo que vale a pena, escondendo a realidade de quem é espiritualmente superficial, e teimoso em sua fragilidade como pecador.

Não é por causa do pecado de muitos que devo abandonar as ferramentas; se, posso usá-la devidamente para honrar e glorificar ao Senhor, edificando a muitos. Mas, serve como alerta para, pelo menos dois discernimentos: (1) Você deve saber que, provavelmente, a maioria dos que estão alistados como seus amigos no Facebook usam máscara, postando aquilo que realmente não são. (2) Você já tirou a sua?

Que Deus seja a sua vida, sempre.

Vitrine

Um espaço envidraçado em que se expõe algo para apreciação e venda. Esta é uma definição básica acerca do termo francês, conhecido em nosso meio, também com a variação vitrina.

É um espaço privilegiado; preparado para impressionar. Há, inclusive, formação específica para os responsáveis por essa área, cujo objetivo é o de causar impacto; convencendo o observador (ou admirador) à aquisição do que é exposto. A atividade de designer de vitrines (vitrinista) foi incluída na classificação brasileira de ocupações, do ministério do trabalho, em 2002. Uma pesquisa revelou que mais de 70% das compras em lojas são motivadas pela vitrine. E como todo comerciante quer vender, o trabalho de vitrinista está ganhando mercado.

Pois bem, expor da melhor forma possível, sem revelar os defeitos, ou possíveis razões de sua inutilidade; levando o observador a pagar o preço proposto. Isto ilustra bem como age o ser humano movido pelo orgulho. Todo ser humano naturalmente busca expor sua vida da melhor forma possível para que seja alvo de admiração. Isso funciona mesmo para os “rebeldes”; pois, querem vender a imagem da diferença motivada por certa capacidade incomum de ver, sentir e interpretar a vida. Todo rebelde quer provar que há razão convincente para sua rebeldia; mesmo que seja somente o prazer; ou mesmo o não necessitar de razões para fazê-lo.

Funciona assim: Você é o vitrinista. E arruma sua vida (a imagem que quer passar) na vitrine, da melhor maneira possível. Com o objetivo de ser contemplado, apreciado e adquirido, cuida para que as imperfeições e os males sejam camuflados. O objetivo é o de levar a aquisição. O medo é o de não ser interessante; logo, o de empacar, isto é, não vender. Afinal, o produto exposto na vitrine que não motiva à compra, é retirado, devolvido, ou vendido em liquidação, como algo de pouco interesse.

Este é o medo de todos! Expor sua pessoa (identidade, jeito, costume, ideias, princípios, etc) na vitrine, e ser rejeitado. Isto leva alguns a expor a si mesmo de maneira enganosa, sugerindo mais do que realmente podem oferecer; como se diz no jargão: vendendo gato por lebre. Vale tudo para não ter o orgulho ferido. Este medo leva outros a expor sua pessoa na vitrine de outra forma, sugerindo a discrição, ou mesmo a timidez; tudo pelo medo da rejeição. Nesses casos, muitos são enganados; pois, são atraídos por perfis que indicam simplicidade ou mesmo humildade; sem perceber que estão levando pura manifestação orgulhosa, de quem tem medo de ser rejeitado ou vendido em liquidação, como alguém desinteressante.

Enfim, fazem da vida uma vitrine. Entendendo que nela não se expõe a realidade; mas aquilo que se deseja vender. E, fazem de si mesmo um vitrinista; preocupado em ser bem sucedido – não vender a realidade, mas aquilo que interessa aos outros. Não se vende o produto, mas sua sugestão aplicada à vida do comprador. Por isso, tanto sofrimento nos relacionamentos. Alguém quer um amigo. Procura nas vitrines e se interessa por aquele que lhe traz mais benefícios; preferencialmente, o que não lhe trará problemas. Compra a ideia, assumindo relacionamento; e, em algum tempo depois, descobre a verdade. Decepção. Isso acontece de pessoa para pessoa; de pessoa para instituição, incluindo a igreja local; de pessoa para Deus, considerando as versões pessoais de Deus anunciadas. Peca quem vende; peca quem compra.

Segundo o Evangelho a imagem que devemos expor na vitrine é a de alguém humilde, no sentido de que é submisso a Jesus Cristo; este sim, Senhor do universo e de nossa própria vida. Quando o que é exposto é movido pela humildade, rompe-se a necessidade e a tendência de aprovação a todo custo; e cria-se a disposição de revelar o Senhor, aquele que deve receber toda adoração. É isto o que o apóstolo Paulo disse aos gálatas: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (2.20).

O que você tem exposto na vitrine?

Cuidado com sua imagem

Algum tempo atrás havia o comercial de um refrigerante na TV que afirmava: “Imagem não é nada, sede é tudo!”. Chamou-me a atenção a expressão: Imagem não é nada, na tentativa de se passar a ideia de que nem sempre o que se vê é a realidade; nem sempre o que se mostra é a verdade.

Concordo com a lógica oferecida, desde que se desperte para a lógica sequencial de que a imagem (o que se mostra ou o que se vê) mesmo que não verdadeira, passa uma mensagem para o receptor. Quem vê assimila algo, mesmo que seja algo errado ou falso; mas, ainda sim capta algo.

O Senhor nos ensina por meio de sua Palavra o princípio de oferecer a Ele o que temos de melhor. Isto não diz respeito somente à parte espiritual (ou religiosa); mas sim ao todo de nossa vida – corpo, inteligência, esforço, dinheiro, roupa, casa, bens, etc. E, destacando a questão da vestimenta, é importante entender que quando nos aprontamos para ir à casa do Senhor adorá-lo, o que vestimos também revela se oferecemos o que temos de melhor (conforme o Seu gosto, e não o nosso). É estranho ver na igreja rapazes com bermudões, camisas de time de futebol, ou trajes semelhantes; normalmente usados em lugares onde não há tanta exigência e rigor, como clubes, estádios de futebol, nossa própria casa, etc.

É estranho, e pecaminosamente perigoso ver moças, e senhoras, com trajes que normalmente são usados para despertar os homens à apreciação. Sei que nessas horas a comum desculpa é que os homens precisam ser mais fortes; mas, mesmo que sejam, resistindo bem à tentação, o só desejo de despertar já se torna pecaminoso.

É também estranho ver crentes usando, sem nenhum critério, peças místicas – cordões, brincos, pulseiras, e outras bugigangas, que passam uma mensagem naturalmente anticristã.

Imagine esta cena: Você me visitando, conversando comigo na sala; morrendo de fome. Então, sente o cheiro de comida, e percebe que é sua comida predileta. Eu o convido para jantar; você, logicamente, aceita. E, quando à mesa, pronto para saborear aquele prato e matar sua fome, você se depara com aquela comida sendo servida em um pinico. Qual seria sua reação? Comeria da comida? Creio que poderia até comer, mas mesmo diante de todas as informações acerca do não uso daquele vasilhame, você veria a comida de forma diferente. Isto é, a comida (o conteúdo) continua a mesma; mas a forma de vê-la é que muda.

Assim é tudo nesta vida. Dependendo da maneira como nos apresentamos, forçamos as pessoas a enxergar algo. O conteúdo pode ser o mesmo (o que é questionável); mas a forma de vê-lo, a forma de entendê-lo, muda. Então, cuidado com sua imagem; pois, somos o Corpo de Cristo; isto é, somos, fisicamente, sua representatividade na terra. Percebe a responsabilidade?