Mês: fevereiro 2010

Os irritantes, porém, fantásticos adolescentes!

Quando não preguiçosos, são espertos demais. Quando não largados, são engomadinhos demais. Quando não agitados, são retraídos demais. Quando não ativos, são indiferentes demais. Quando não desportistas, são telespectadores demais. Em difícil situação vivem os adolescentes, tanto por suas próprias características e escolhas quanto pela maneira como são vistos e entendidos. Poucos gostam de falar a este grupo (talvez não seja nem gostar, mas ter coragem), pois ou ficam mudos, ou falam demais. Ou nenhuma participação, ou perguntas e mais perguntas, algumas destas de tirar o fôlego!

Uma coisa que gosto neles é a atitude de gostar ou não gostar. É a decisão interna de se dar ou não. É a autenticidade à flor da pele. Pouco espaço para demagogias, para falsidade, para hipocrisia. E também o dar-se por completo quando abraçam uma causa. E é usando esta característica que Deus tem usado adolescentes para dar continuidade ao Seu projeto de vida para Seu povo.

Quero, nas Escrituras, provar como Deus considera este grupo fantástico, e os usa. E, então, motivá-los a serem usados por Deus; assim como motivar-nos ao investimento nestas vidas tão impressionantes. Para isso, veremos o exemplo de três adolescentes.

O primeiro é José (Gênesis 37). Os vv. 4-11 revelam um adolescente petulante. Certamente percebia o ciúme de seus irmãos, pela preferência de seu pai, e ainda assim, fez questão de ser ouvido, de relatar o sonho que indicava sua autoridade sobre os demais. Mas, conhecendo todo o relato sabemos que apesar desta petulância, comum ao adolescente, Deus estava trabalhando em sua vida, preparando-o para o que haveria de acontecer.

Nos vv. 41.38 – 40.46, após um período de grande turbulência – era o queridinho de seu pai e de sua mãe, der repente arrancado de casa pelos próprios irmãos e lançado em uma terra desconhecida, como escravo, tendo que se virar, crescendo em meio a serviço forçado, acusações e prisões, Deus diz pra ele que é hora de ser gente grande, é hora de agir, é hora de ministrar.

Quantos adolescentes numa situação remotamente parecida com a de José, teriam a devida chance, o devido reconhecimento de nossa parte? Teriam a oportunidade de mostrar seu valor, de ministrar ao Senhor? Para mim o ponto mais incrível na história de José é que ele foi rejeitado pelos seus, mas teve oportunidades incríveis dadas pelos de fora, por aqueles que não o conheciam, que não tinham nada a ver com ele.

Deus pode usar pessoas assim; mas o inimigo também, levantando pessoas estranhas para oferecem oportunidades que podem desviar o adolescente dos caminhos do Senhor. Em casos assim Deus pode também ser misericordioso, mas quantos “José” conhecemos? E, por outro lado, quantos adolescentes perdidos? Onde está a misericórdia de Deus? Perguntam alguns. Onde está a responsabilidade dos homens? É que deveria ser nossa principal consideração.

O segundo adolescente a ser considerado é Davi (1 Samuel 17). Nos vv. 24-26, 32-36 revelam um adolescente atrevido, mas corajoso. Algum tempo atrás preguei uma mensagem sobre esse texto, tratando da reação dos incapazes, mostrando como todos, inclusive os irmãos de Davi, se irritaram com ele, por ter tido a atitude que eles deveriam ter, mas não tiveram. Como um bom e autêntico adolescente ele não mediu suas palavras (v.26). Falou o que veio à mente. Falou a verdade, mas, atrevidamente. E parece que é exatamente isto que falta aos maduros, aos experientes, em certos momentos na vida cristã – atrevimento, no Senhor. E a história contada por ele a Saul seria naturalmente digna de uma incrível “história de pescador” (vv.34-35). Mas no seu caso era verdadeira. Ninguém a contestou, nem Eliabe, o irmão bravo. E sabemos como Deus o usou, derrotando o gigante Golias.

Mas quero chamar sua atenção para algo – vv. 38-40. Saul deu para Davi aquilo que tinha de melhor para a batalha – sua armadura. Era a melhor dentre todas. Mas não servia para Davi. Ele pegou as armas que faziam parte de sua realidade, de seu dia-a-dia e derrotou o inimigo. Normalmente passamos aquilo que temos de melhor para eles, ensinamos os macetes da vida, mostramos as ferramentas, aquilo que usamos e que tem dado certo. Mas, nem sempre é o que serve para o adolescente, ou pelo menos, nem sempre é o que serve para aquele momento. Deus pode querer usar outras ferramentas, o Senhor pode querer usar algo mais simples, algo até mesmo insignificante, mas que ao ser usado segundo a Sua direção, produz um resultado maravilhoso (v.43).

Deus queria revelar Sua grandeza através da pequenez e da insignificância de Davi e de suas armas. Deus pode revelar Sua grandeza através da pequenez e das insignificantes ferramentas de nossos adolescentes. Como servos maduros no Senhor, devemos estar atentos para a Sua diversidade no atuar.

O último a ser considerado é Samuel (1 Samuel 3). Samuel era um adolescente que ajudava o Sacerdote no templo. Um adolescente que por voto de sua mãe, aprenderia do Senhor e viveria para o Senhor.

Os vv. 1-10 revelam que Samuel levou em consideração tudo o que o Senhor lhe disse e lhe ensinou em toda a sua vida, e tornou-se o maior de todos os juízes em Israel, o maior de todos os sacerdotes, e um dos maiores profetas.

Ele ouviu! Ele assumiu as três grandes funções de liderança sobre o povo e o fez como ninguém, foi o melhor! E tudo isso porque ouviu ao Senhor.

Meu esperto adolescente, quando o Senhor falar, ouça-o, pois Ele pode fazer maravilhas em sua vida e através de você. Ele pode usá-lo grandiosamente entre nós, pode usá-lo no meio de sua família, entre seus colegas, enfim, Ele pode fazer de sua vida um exemplo para a minha vida, para a vida de muitas outras pessoas.

Então, quando o Senhor falar, ouça-o!

Indesejável

Todo pastor visualiza uma igreja assídua e participativa, tendo cada membro como um expoente de sua visão ministerial, uma visão otimista, uma visão comunitária. Buscando transformar sua expectativa em realidade, conclama os membros a estarem em todas as programações, a sentarem-se na frente, a serem ativos, demonstrando seu amor uns pelos outros.

A palavra de muitos pastores sobre os membros que não se encaixam neste perfil progressivo é a de desolação ou de crítica, percebida por meio de reclamações, ou de comentário desnecessários, desagradáveis, e desprovidos de direcionamento ético. Identificam os tais membros como aqueles que possuem um perfil indesejável para toda e qualquer igreja.

Para mim, o mais impressionante (pecaminosamente incrível) é como muitos pastores quando na condição de participantes, de membros, em associações (pastorais ou denominacionais) agem exatamente como os tais “membros indesejáveis”. Não são assíduos, nem participativos. Não são amáveis; quando muito são “cordialmente políticos”. Não cooperam financeiramente, irando-se quando chamados à responsabilidade. Possuem, inclusive, a tradicional mania de sentar-se atrás, não gostando do chamado à frente; a mesma que fazem, quando em suas igrejas, ao membro que insiste em sentar-se nos últimos bancos. Enfim, pastores que agem como os tais “membros indesejáveis”.

Todo pastor espera que os membros participem das discussões e saiam das assembléias compactuados com a decisão assumida pela maioria, sem murmurar ou deixar de participar por ter sido voto vencido; entendendo que a vontade do Senhor foi manifestada na decisão majoritária. Todo pastor espera que os membros priorizem os programas da igreja, planejados com o propósito de edificar a todos, trazendo crescimento à comunidade. Diante disto, torna-se absurdo perceber pastores que ao contrário do que ensinam e esperam dos membros de sua comunidade, agem discordante e desagregadoramente, ignorando o planejamento de seu movimento, não priorizando o seu crescimento, agendando programas para as datas anualmente conhecidas de atividade dos adolescentes, dos jovens, das mulheres e dos homens. Enfim, pastores que agem como os tais “membros indesejáveis”.

Pior ainda é quando se constata um agir pecaminoso, literalmente político; semeando a rivalidade em defesa parcial de gostos e de proximidade; daquelas coisas pequenas e irritantes que fazem parte da rotina de “todo membro indesejável”, que sabe somente contemplar o seu próprio umbigo ou o de seus “parceiros”, em detrimento de todos os que em algum ponto discordam de suas opções.

Percebo, em meio a esta triste realidade, a razão de alguns membros serem insistentemente indisciplinados. Entendo o porquê de algumas igrejas não terem uma visão agregadora e espiritual. Como afirma o ditado: “A igreja é a cara de seu pastor”. Evidentemente que há exceções para esta afirmação, criando o entendimento de que cada caso é um caso; no entanto, em muito, alguns membros e algumas igrejas não crescem porque há muitos pastores que vivem como os tais “membros indesejáveis”.

Que tipo de pastor você é?

Os membros de sua comunidade estão de olho em você!

(Será que o nosso movimento viverá autenticamente este evangelho que tanto pregamos?)

Casamento

É o interesse que inicia o relacionamento; seguido da paixão que os leva ao namoro. E, então, o desejo pelo outro, e a responsabilidade em formar uma família que os sustente em uma vida sólida e agradável, que propicia o momento da cerimônia de casamento. Paixão, desejo, amor; enfim, sentimentos e sonhos que incluem o medo; mas, acima deste a esperança de estarem certos.

Muitos momentos a sós; muita conversa; muita observação, do outro, da família do outro, de outros casais; muito aconselhamento. O que dizer, então, no momento da cerimônia; quando todos os olhos estão voltados para o “espetáculo”?

No tempo em que vivemos, talvez, nada seja melhor do que enfatizar para todos os presentes a seriedade do que se experimenta no casamento. Usando um texto geral quero destacar o temor a ser assumido no enlace matrimonial, diante de Deus: Eclesiastes 5.1-7.

A ênfase do texto está sobre a seriedade do compromisso assumido com Deus. Tendo isto em mente, o autor chama a atenção para a postura esperada pelo Senhor, revelada por meio de três atitudes:

1ª atitude: Adoração.

“Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal” (1).

Guardar o pé – costume oriental que denota respeito e reverência – referência física à retirada das sandálias, como sinal de respeito ao local que está sendo pisado. A seriedade está baseada no entendimento de se estar diante do Senhor, em um sentido solene.

Ouvir (obedecer) é melhor do que a participação formal na oferenda de sacrifícios – o ensino é que a obediência sincera, de coração, a Deus, é superior à participação religiosa meramente cerimonial. Algo muito comum em muitos que participam de uma cerimônia de casamento.

2ª atitude: Oração.

“Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras. Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias” (2-3).

O cuidado com aquilo que falamos, perante Deus; realçando sua soberania e, em contrapartida, nossa limitação; com relação a comprometimento, como ficará claro nos versos seguintes. Sonhamos, planejamos, agimos em prol daquilo que assumimos como certo; porém, não podemos nos esquecer de que “todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito” (Provérbios 16.2).

3ª atitude: Resolução.

“Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras. Não consintas que a tua boca te faça culpado, nem digas diante do mensageiro de Deus que foi inadvertência; por que razão se iraria Deus por causa da tua palavra, a ponto de destruir as obras das tuas mãos? Porque, como na multidão dos sonhos há vaidade, assim também, nas muitas palavras; tu; teme a Deus” (4-7).

Cuidado com os comprometimentos perante Deus. Temos de ter consciência dos votos assumidos perante Deus; evitando nos colocar voluntariamente em uma situação de dificuldade, com votos impensados; para que não venhamos a usar falsas desculpas. A atitude esperada é a de que não sejamos como os tolos; isto é, não votemos apressadamente. Deus demanda seriedade incondicional. Exige nosso temor, nossa consideração. Isso significa respeito, reverência, mas também observância de Sua Palavra, de Seus preceitos.

O que Deus espera daqueles que estão diante dele em uma cerimônia de casamento é uma adoração verdadeira, uma oração consciente, e uma resolução de obedecer. Isto porque o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. O temor do Senhor é o princípio, a continuidade, e a vitória da sabedoria naqueles que vivem por ele.

É um privilégio amar. É um privilégio ainda maior amar por meio do Senhor, entendendo que este amor vem dEle, é por meio dEle, e é para Ele.

Espiritualidade alienada

Leia Jeremias 6.9-21

Distraído, desinformado; alucinado, enlouquecido. A idéia principal é a de algo desligado. Alguém que não se dá conta da realidade. Alguém que não enxerga, e, portanto, não entende sua própria vida, assim como a de outros. O que o leva a ser desconsiderado, não ser levado a sério. Este sempre foi o maior problema do povo de Deus, tanto Israel quanto Igreja, registrado, inclusive nas Escrituras. Esta alienação além de cegar o povo, sempre colocou o Senhor em pé de guerra com Seu próprio povo, levantando profetas para o despertamento espiritual. E a principal tarefa destes era a de falar a verdade. Não dar a desculpa ao povo de que Deus não se moveu para despertá-los de sua alienação. Não importava se o povo ouviria ou não, a tarefa do profeta era a de falar aquilo que na maioria das vezes incomodava.

É o que vemos no texto em Jeremias 6.9-21. O Senhor usa o profeta para falar diretamente ao povo, revelando o problema. Aliás, um antigo e teimoso problema: A dificuldade em assumir uma espiritualidade saudável.

Considerando o texto não há ausência de alvo, ou de prioridade. Ao contrário, a prioridade, mesmo que inconscientemente, é bem definida – “sou eu”. E isto faz com que tudo e qualquer coisa que esteja fora deste alvo seja ignorado (10).

O resultado é a ira do Senhor, normalmente não entendida, e ainda questionada, como se não houvesse razão para tal (11-15):

Problemas e dificuldades como disciplina do Senhor. Não por ser algo novo, traçado por Deus diante da novidade da recusa, mas sim como conseqüência de andar por um caminho diferente do ideal do Senhor (11-12).

Ganância, falsidade, falsa paz, falsa vida, falso futuro, falso deus. Uma religiosidade repleta de preconceitos, de crendices, e de uma tradição que revela a frieza do coração, o distanciamento do Senhor, o desamor (13-15).

“Tudo está bem!” Não. Não há nada bem. Há uma teimosia em viver como bobos, como alienados:

– Quem? Quando? Onde? Como?

– Não sei de nada?

– Ah! É mesmo?

– Interessante esta palavra, profunda…. (somente interessante).

– É verdade… (mas nunca essa verdade se aplica à pessoa).

– Oração? Leitura bíblica? Dons? Ministério?

– Como? Onde? Quando? Quem?

Pode-se não se ter coragem em assumir ou inteligência em perceber, mas tudo não passa de rebeldia (16-17).

Deus não se agrada de cultos, de música, de coros, de conjuntos, de uniões, de feiras missionárias, de esquetes, de retiros, de almoços, de encontros especiais, de EBD, de sacrifícios, quando o coração da pessoa verdadeiramente não está disponível a servi-lo, a considerar sua vontade (19-20).

Qual a solução?

A resposta é “quebrantamento”. Uma preocupação menor, bem menor, com o que ganhará; e maior, bem maior, com o que dará. O problema está na concentração do “eu” como a coisa mais importante de ser atendida. Isto direciona o homem à cobiça, que segundo Jeremias, e outros autores, como Tiago, é a razão da constante guerra no homem, e entre os homens.

O Senhor espera autenticidade no lidar com ele, e com a vida. Trabalha para que nossa espiritualidade seja plenamente real, e agradável a Ele, como um culto constante de quem tem o coração grato e disposto a adorar.